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HOMEM NÃO CHORA
Nunca tinha visto meu pai chorar, por isso fiquei chocado quando o fez de forma tão copiosa na última vez em que estivemos juntos. Ele foi criado em uma família extremamente machista, meu avô não admitia ver uma lágrima sequer nos olhos dos filhos homens. Certa vez meu pai contou que um dos seus irmãos havia apanhado muito numa briga de rua; ao chegar em casa chorando levou outra surra, antes mesmo de explicar o que havia ocorrido. Meu avô dizia que sua casa era uma forja de machos. Se não chorar era o referencial, creio que meu pai foi bem forjado, mas o aço de que era feito não resistiu ao nosso último encontro.
Meu pai era capaz de suportar todo tipo de dor. Perna quebrada, morte de amigo, nada era capaz de fazê-lo chorar. Quando a dor era física, gritava, mas pouco, falava que não ficava bem homem gritando de forma descontrolada, “isso é coisa de veado”. Na dor emocional ficava de mau humor, calado. Fechava a cara e não falava com ninguém. Mamãe, coitada, sofreu para que essas ideias não me contaminassem. “Filho, todo mundo chora, basta ter olho para chorar, não dê ouvidos às baboseiras do seu pai e do seu avô”. Com o tempo meu pai desistiu de me ensinar a ser forte, mas sua paciência diminuía muito quando me via chorando. Fui criança, jovem e adulto, e em todos esses anos de convívio ele não caiu em contradição hora nenhuma, a não ser na última vez em que o vi.
Todo esse histórico justifica a surpresa que tive ao ver o pai soluçando, não se aguentando em pé de tanto chorar. Mal conseguia articular uma frase entre as lágrimas, era quase convulsão. Foram horas e horas de choro, nada nem ninguém o consolava. Em alguns momentos o pranto perdia força, ficava baixinho, mas então recebia energia não sei de onde, e voltava grande, revolto, incontrolável. Ainda chorava muito quando jogaram a primeira pá de terra sobre o meu caixão.

Rafael Ugulino (escrito em março de 2009, revisado em setembro de 2012)

MENSAGEM DE ESPERANÇA

80787Uma mensagem de esperança, sem data, sem religião, sem ideologia; apenas oportuna por renovar na alvorada de um novo ano, a confiança no gênero humano.
É minha discreta homenagem ao intelectual, escritor, jornalista e principalmente defensor incansável da justiça , da igualdade e dos direitos humanos, EDUARDO GALEANO, uruguaio (1940-    ) amplamente conhecido nos meios literários internacionais pelos seus mais de 40 livros, entre os quais sua obra prima, por ter-se tornado um verdadeiro clássico da esquerda latino americana, intitulado “LAS VENAS ABIERTAS DE AMÉRICA LATINA”, publicado em 1971. Galeano na minha modesta opinião, tem a faculdade de tocar as fibras mais íntimas do coração dos seus leitores, não apenas na defesa irrestrita dos valores da humanidade, mas na luta incansável, sem qualquer tipo de preconceito, pelo progresso moral e espiritual dos seus semelhantes.
Assim, (em tradução direta que fiz com prazer e satisfação) ele nos diz, num pensamento atemporal e sempre apropriado:
Tomara que sejamos dignos da desesperada esperança.
Oxalá possamos ter a coragem de ficar sós e
a valentia de arriscarmos a ficar juntos,
porque de nada serve um dente fora da boca, nem um dedo fora da mão.
Tomara que possamos ser desobedientes cada vez que recebamos ordens que humilham nossa consciência ou violam nosso bom senso.
Oxalá possamos ser suficientemente obstinados para continuar a acreditar, contra toda evidência, que a condição humana vale a pena, porque se fomos mal feitos, certamente ainda não fomos terminados.
Tomara que possamos ser capazes de seguir caminhando pelos caminhos do vento,
em que pesem as quedas e as traições e as derrotas,
porque a história continua além de nós e quando ela diz adeus,está dizendo: até logo.
Oxalá que possamos manter viva a certeza de que é possível
ser compatriota e contemporâneo de todo aquele que viva
animado pela vontade de justiça e a vontade da beleza,
nasça onde nasça e viva onde viva,
porque os mapas não tem fronteiras para as almas nem para o tempo.
EDUARDO GALEANO

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ORGULHO DAS RAÍZES

NIÑOS TRIQUIS

Sempre que tive oportunidade tentei manifestar o orgulho que sinto das minhas raízes. As comunidades indígenas mexicanas foram de fato uma grande motivação para minha escrita, ao ponto de lhes dedicar pelo menos três ou quatro capítulos do meu livro “A Versão dos Vencidos: Uma Ótica Sobre a História do México”, onde destaco sua intensa participação na vida nacional, seus valores e sua luta pela sobrevivência, mas o que de fato sempre me impressionou, além da têmpera herdada dos guerreiros aztecas e da sabedoria e a ponderação do povo maya, foi o seu conceito de nacionalidade e sua pureza de espírito.
A notícia de que as crianças “triquis” (comunidade indígena das montanhas do estado de Oaxaca, no sul do País), descalços, como costumam andar no seio da sua comunidade, teriam ganhado as sete partidas que disputaram no Quarto Festival Internacional de Basquete Infantil (minibasquete) realizado na cidade de Córdoba, Argentina, não me impressionou tanto quanto as condições em que veio a esplendorosa vitória.
Quando vi a fotografia das crianças em plena luta esportiva, evidenciando sua acentuada desvantagem física com relação ao resto dos competidores e soube das carências em geral desta pequena comunidade, cheguei a mais pura emoção por perceber a enorme diferença que faz a determinação e o trabalho para se atingirem os objetivos na vida.
Estes pequenos gigantes (como pode ser apreciado na fotografia ilustrativa) evidenciando sua condição de pobreza ao nem sequer conseguir comprar os tênis, aparentemente indispensáveis à prática do esporte, bateram seus oponentes argentinos por placares verdadeiramente inacreditáveis para este tipo de competição, como nos explica seu treinador Sérgio Zúñiga:
Conseguiram 86 -3 contra os Celestes; 22-6 contra o time da Universidade de Córdoba; marcaram 72-16 na partida contra o time da Central; 82-18 no Hindú; 44-12 contra os Monteéis e 40-16 frente ao Regatas de Mendoza.
A comissão Nacional Argentina do Esporte acabou denominando-os como “Los Gigantes Descalzos de la Montaña”.
Cabe destacar que para esta edição do torneio participaram 54 times procedentes das diversas províncias do País anfitrião, além dos times nacionais da Bolívia, do Brasil, do Chile, do Uruguay e da Venezuela, permitindo a participação de mais de 800 crianças entre os dias 11 e 14 do passado mês de outubro.
Para se ter uma ideia da popularidade atingida por este evento esportivo (iniciado em 2010 no Equador e tendo passado pela cidade de De La Vega na República Dominicana) desta vez, participaram delegações de 20 províncias da República Dominicana e de Países como o México, Guatemala e Equador.
Cabe ainda ressaltar as políticas públicas aplicadas à comunidade indígena dos TRIQUIS e que a partir de 2009 (inicialmente com 500 crianças) geraram em pouco tempo (4 anos), a mentalidade de campeões em 2,500 crianças que recebem da “Academia de Baloncesto Indígena de México” aprendizagem psicológica (entre outros, cursos de liderança e “risoterapia”) com a única condição de frequentar as escolas municipais com média mínima de 8,5, sem a qual não lhes é permitido treinar nem participar dos jogos oficiais. No Brasil, estas políticas públicas canalizadas em geral por ONGs especializadas, vem gerando também resultados surpreendentes, notadamente nas comunidades de baixa renda.
Ainda com a emoção (e profunda admiração) à flor da pele, rendo homenagem a estas crianças (e a seus professores e treinadores), donos eternos do Território Nacional, à sua luta incansável pela superação física e espiritual, à sua coragem, ao seu valor em combate e à sua seriedade e integridade inquestionáveis.
HB

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2 DE OTUBRO DE 1968

Memoria priísta Impossível esquecer os fatos ocorridos em dois de outubro de 1968 na Praça das três Culturas  na cidade do México (Nonoalco Tlatelolco). Impossível esquecer o massacre, mesmo passados 45 anos. Impossível compactuar com o assassinato coletivo, com a imposição de uma vontade política custe o que custar, gerada pela ignorância a vaidade e o egoísmo;  impossível admitir a arbitrariedade, o cinismo, a prepotência e o abuso das autoridades sabendo-se totalmente impunes.
Não podemos deixar passar esta data macabra na qual foram assassinados colegas, professores e alunos de todos os níveis de ensino, público e privado, reivindicando investimentos em Educação e Saúde quando as autoridades mexicanas já tinham decidido investir apenas na organização dos IXX Jogos Olímpicos da era moderna.
Apenas algumas letras em homenagem aos heróis anônimos que deram sua vida protestando, exercendo seu direito de expressão (na época, os vândalos não tinham feito sua estreia no caótico cenário urbano) e que segundo as próprias autoridades (obviamente escondendo a verdade na tentativa de minimizar os fatos) teriam morrido (apenas) 500 civis aproximadamente, quando reunidos em praça pública foram metralhados desde helicópteros oficiais em voos rasantes.
Curiosamente, estamos falando de data coincidente com o nascimento do Mahatma Gandhi. Triste homenagem ao paladino da resistência pacífica.
O Brasil já teve experiências semelhantes, não sei si desta gravidade, mas que custaram 21 anos de retrocesso democrático, 21 anos sem direitos civis, perante as decisões  esdrúxulas do grupo no poder.
Já tive oportunidade de falar sobre este triste episódio na história do México e consequentemente na história da arbitrariedade e da prepotência na América Latina. Não podemos esquecer e muito menos desconhecer a história, sob o risco de repetirmos os mesmos erros cometidos no passado, tanto por parte dos repressores como por parte dos reprimidos.
Estes fatos, tanto no México como no Brasil (em função do aparecimento dos vândalos, aparentemente sem objetivos, isto é, não conseguimos ver filosofia alguma na destruição de orelhões, de pontos de ônibus ou de mobiliário urbano como um todo), nos faz pensar na nítida vontade política de criminalizar o protesto social (pacífico) numa associação direta com a barbárie e a violência irracional, eventualmente provocada por grupos políticos, criando na opinião pública, juízos errados na avaliação das políticas repressivas em vigor.
Por outro lado, estamos absolutamente convencidos (mesmo não sendo seu objetivo principal) de que os vândalos vem ensinando às autoridades municipais, estaduais e federais a correta leitura das vozes das ruas e ainda por cima, de que sem eles (infelizmente), poderíamos protestar pacificamente pelos próximos vinte anos sem que nada, absolutamente nada, ocorresse sob o céu estrelado do Cruzeiro, o mesmo do lábaro pátrio e daquele que continua a resplandecer em nossos corações.

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O DIABO LOURO

AM Cangaceiro III HB Sempre pensei que as homenagens (em qualquer hipótese) deveriam ser feitas para as cabeças coroadas, (pelos seus méritos) desde que, indefectivelmente já falecidas. Posteriormente, quando descobri que todos aqueles que teriam passado para “melhor” eram imediatamente “santificados” (às vezes até por merecimento, mas na maioria das vezes pela consciência pesada ou pela própria vaidade dos promotores da homenagem) mudei a minha maneira de pensar e atualmente, me rendo a vivos e mortos (o que para mim não faz a menor diferença por ter deixado, há muito, de acreditar na morte) desde que merecedores efetivamente da minha (muito pessoal e modesta) homenagem.
Tiro o chapéu para muitas figuras ilustres (e até pouco conhecidas) nesta ou em qualquer outra vida, por remorso (por não tê-lo feito antes), por discriminação (às vezes consciente) ou mesmo por terem conquistado a minha admiração pura e simplesmente.
Assim, desta feita, a minha homenagem (a do mês de agosto), vai para o eterno cangaceiro; para o homem que encarou como ator, as contradições, a maldade e (hoje estou convencido) a pureza interna dos revoltosos do cangaço. O eterno Corisco, o Diabo Louro, incapaz de manifestar suas emoções, escondidas sob aquela armadura de couro que vestia para se proteger dos espinhos da vida, mas com um amor no coração proporcional ao seu tamanho; o que, diga-se de passagem, seria a única característica coincidente entre ator e personagem.
Como já foi possível deduzir, trata-se do nosso irmão de fé (e camarada) OTHON JOSÉ DE ALMEIDA BASTOS, o conhecido e laureado ator baiano (de Tucano-BA) Othon Bastos.
O Othon homem e ator, o Othon profissional, leve e profundo, o Othon possuidor de um fino sentido do humor e de uma seriedade a toda prova. Em fim, o Othon capaz de captar a admiração de próprios e estranhos pela sua trajetória de vida, pelo seu empenho e determinação e pelo coração gigantesco que o mantem na reta rota do amor, inclusive, acompanhado, há mais de 50 anos pela sua amada “Dadá”, a também atriz, Martha Overbeck.
Toda esta alegoria relativa ao Othon-Corisco, à Dadá-Martha, aos sentimentos e as aventuras do cangaço e mesmo ao amor e a bondade interior entre ator e personagem, deve-se a um dos maiores sucessos cinematográficos de Othon Bastos, hoje um verdadeiro clássico do cinema brasileiro intitulado “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, dirigido por Glauber Rocha em 1964.
Para quem não se lembra, Othon iniciou a sua carreira de ator em 1951 e até o momento, do alto dos seus 80 anos, (num curriculum invejável) já protagonizou mais de 70 filmes, atuou em mais de 20 peças teatrais e integrou o elenco de mais de 80 programas de televisão, de diferentes estações, entre novelas, séries, minisséries, casos especiais e outros tipos de participação, como narrador, palestrante e debatedor.
O Brasil é um país de grandes atores e ao parecer sempre foi, atores estes que permaneceram para sempre na mente de quem teve o privilégio de presenciar suas aparições no teatro, no cinema ou na televisão, desde os inesquecíveis João Caetano, Procópio Ferreira, Raul Cortez, Walmor Chagas, Fernando Torres, Paulo Autran, Ítalo Rossi, Sergio Britto, Gianfrancesco Guarnieri, Paulo Gracindo e tantos outros que permanecem vivos e para os quais estendemos esta homenagem, até aqueles também vivos, como Lima Duarte, Antônio Fagundes, Tony Ramos, Marco Nanini, Selton Melo, Wagner Moura, Lázaro Ramos e uma plêiade de astros de várias gerações integradas no esforço de alavancar a qualidade das artes e da cultura brasileiras.
Mas voltando ao nosso homenageado, escolhido imediatamente após a comemoração dos seus 80 anos, pela cúpula do Festival de Gramado para receber o “KIKITO de Cristal” que, pela primeira vez, em todas suas edições, é concedido a um ator pelo conjunto da sua obra, não poderíamos deixar de mencionar a verdadeira coleção de prêmios e honrarias por ele recebidas, apenas fazendo jus ao seu profissionalismo e a reconhecida qualidade da sua arte.
Entre outros, Othon Bastos tem sido justo merecedor dos seguintes prêmios:

• Prêmio de melhor ator, no “Festival de Cinema do Ceará”, por sua atuação no filme de curta metragem “O Número”, em 2004;
• Indicação ao Prêmio Nacional Jorge Amado, Literatura e Arte, edição de 2003;
• Prêmio Qualidade Brasil SP, na categoria de melhor ator coadjuvante por sua atuação na novela Esperança de Benedito Ruy Barbosa em 2002;
• Indicação ao Grande Prêmio Cinema Brasil, na categoria de melhor ator, por Mauá – O imperador e o rei (1999);
• Prêmio na categoria de melhor ator coadjuvante, no Grande Prêmio Cinema Brasil, por Bicho de sete cabeças (1999);
• Prêmio Air France na categoria de melhor ator por sua atuação no filme São Bernardo; 1973;
• Kikito de Ouro na categoria de melhor ator, no Festival de Gramado, por São Bernardo (1971);
• Troféu Candango na categoria de melhor ator, no Festival de Brasília, por Os deuses e os mortos (1970), e
• Prêmio de melhor ator pelo Molière e Associação Brasileira de Críticos Teatrais, ABCT, por sua atuação no espetáculo “Um Grito Parado no Ar”, encenação de Fernando Peixoto de 1973.
Todavia, a sua atuação em Deus e o Diabo na Terra do Sol (Glauber Rocha), Os Deuses e os Mortos (Ruy Guerra) e O Pagador de Promessas (Anselmo Duarte) influenciaram certamente a decisão para realização desta minha modesta (porém sincera) homenagem, mas o que de fato determinou esta homenagem ao “grande diretor de filmes mudos”, foram as leituras fascinantes e enriquecedoras a que nos tem acostumado, as segundas feiras, na Casa do Padre Pio.
HB

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TERIYAKI COM PIMENTA (minha saga oriental)

Ninhos JaponesesSamurai IVYamashiro Hiruma e Petra Sanchez Yamashiro Hiruma, cidadão japonês, nascido em plena era Meiji (1867-1912) na cidade de Yokohama, Edo (atual área metropolitana de Tóquio), herdeiro das tradições e da filosofia oriental, embaixador do Império do Sol Nascente (por vontade própria e espírito aventureiro) meu bisavô (por parte de pai), desembarca no México no fim do século XIX e acaba casando com a mexicana Petra Sanchez, minha sorridente bisavó, gerando uma descendência entre a qual me insiro com orgulho e satisfação. Era de otimismo, de expansão e de vitórias após a derrocada do regime do Xogunato. MEIJI TENNO ou o imperador do “Japão do futuro” põe fim ao regime feudal e vence sucessivamente a China (1895) e a Rússia (1905) estabelecendo-se posteriormente na Coréia e na Manchúria. Os japoneses começam a se voltar para o mundo exterior e iniciam seu movimento migratório à procura de novos horizontes após mais de 300 anos de fechamento total, de introversão, de consolidação das tradições, da filosofia e da religiosidade, características tipicamente orientais, hoje reconhecidas e admiradas pelo resto do mundo.
Ancestralidade esta pouco conhecida da própria família, ninguém perguntava nada, ao parecer, as pessoas sofriam em silêncio, a introversão à época parecia fazer parte da educação. Meu pai nasceu cinco anos depois do decesso do avô Yamashiro e nunca soube da existência de registros de nascimento. Algumas certidões de batismo e atestados de óbito eram guardados a sete chaves e sempre ocultos à vista das crianças. Nenhum passaporte, nenhum vestígio da sua personalidade, nenhuma lembrança. Ninguém foi capaz de identificar qualquer traço de bondade, ou de um eventual “mau-caratismo” de Yamashiro; nada sobre sua religiosidade ou de qualquer legado desta estranha e misteriosa figura vinda do outro lado do mundo.
Embora sempre soubesse, tomei consciência de ser bisneto de japonês, depois dos meus trinta anos. Na verdade, nunca dei importância aos antepassados, mas hoje estou convencido de que, quando esquecidos por nós, efetivamente morrem mais uma vez.
Sobraram apenas algumas fotos, todavia, mesmo observando-as com atenção, me declaro absolutamente incompetente para descrever um japonês: “tal vez baixinho, olhos amendoados “ma non troppo”, cabelo liso ao extremo, porém não espetado, alinhado pela esquerda, grave, muito sério, só minha bisavó aparece sempre sorrindo no que foi o seu segundo casamento (porém vestindo luto em função da sua viuvez), sobrancelhas quase retas, testa larga, rosto mais para alongado do que para lua, bigode ralo e fino de quase lampinho, levemente levantado nas pontas (lhe conferindo uma imagem entre mandarim e cantor de bolero, absolutamente oposta à figura marcante dos samurais) e uma pérola no nó da gravata que, imagino, fosse mais imposta pela moda da época do que pelo gosto pessoal de alguém aparentemente inconfortável num terno (com colete) mais preto do que a minha consciência e uma camisa branca de colarinho mais engomado do que pinguim argentino”. Em fim, observando as fotografias com boa vontade e empurrado pelo orgulho de ter no sangue algum percentual do misticismo, da disciplina e de todo aquilo que admiro nos orientais em geral e nos japoneses em particular, diria que Yamashiro meu bisavô, era de fato japonês. Mas que poderia ser mexicano poderia.
A falta de cor na vida dos que presenciaram a passagem para o século XX continua a nos parecer muito marcante, aparentemente ninguém sorria como nos fizeram acreditar nossos antepassados através dos próprios registros iconográficos e as roupas coloridas, próprias da era de Aquarius, ainda demorariam a aparecer. Ninguém questionava tradições e costumes, criança só falava com adulto quando instada a fazê-lo e felicidade era uma característica absolutamente circunstancial, desconhecida por muitos e experimentada em momentos esporádicos por alguns (aparentemente) muito poucos.
Perguntando insistentemente para os mais velhos da família e pesquisando na Embaixada do Japão na cidade do México e no Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil, soube de algumas particularidades que tornaram a presença de Yamashiro entre nós, no mínimo intrigante e por demais curiosa, além de extremamente rica em desdobramentos carmicos com relação ao Império do Sol Nascente e seus habitantes.
A descoberta da existência de cartas vindas de Yokohama e que por falta de tradução, ficaram durante muito tempo numa das gavetas da minha avó paterna, (filha de Yamashiro, falecida em 1937 aos 36 anos de idade) além da possibilidade real de ter embarcado para América junto com Wasaburô Ôhtake (1872-1944) lexicógrafo japonês, contratado pela Marinha Brasileira para elaborar o primeiro (e até hoje mais importante) dicionário japonês-português, pelo fato de ambos terem nascido em Yokohama, (à época pequena vila de pescadores na baia de Tóquio) e pela probabilidade de terem sido amigos ou, no mínimo conhecidos, embarcando numa verdadeira aventura juvenil para conhecer o mundo, atiçaram ainda mais o meu interesse no sentido de resgatar a memória do meu bisavô.
Yamashiro, já na última década do século XIX, (já que sua primeira filha mexicana, minha avó Guadalupe, teria nascido em 1901) optou por desembarcar no porto de Mazatlán e Wasaburô, ao que tudo indica, teria permanecido viajando, até bem entrado o século XX no famoso navio Kasato Maru, (que partia de Yokohama a cada dois anos), na tarefa de aperfeiçoar sua magnífica obra literária, até hoje vendida até nas bancas de jornal do bairro da Liberdade na cidade de São Paulo. O Kasato Maru, diga-se de passagem, tendo saído em 1908 do porto de Kobe no Japão com destino ao Porto de Santos, trouxe ao Brasil a primeira leva oficial de imigrantes japoneses (781 pessoas pertencentes a 165 famílias), vinculados ao acordo assinado entre o Brasil e o Japão, especificamente para se abrirem frentes de trabalho nos cafezais do oeste paulista. Este imponente navio que já tinha içado a bandeira russa (com o nome de Kazan), foi originalmente utilizado como navio-hospital durante o confronto Russo-Japonês (1904-1905), passando a poder dos japoneses como indenização de guerra, para finalmente, ser destinado ao transporte de passageiros, especificamente de migrantes japoneses para o Havaí, em 1906, e para o Peru e o México, em 1907. Durante longo tempo, o Kasato Maru foi o único navio japonês responsável por trazer sucessivas levas de migrantes japoneses para América, partindo de Yokohama (justamente a cidade natal de Yamashiro e de Wasaburô) fazendo escalas em São Francisco e Los Angeles nos EUA, em Mazatlán no México, Callao no Peru e posteriormente, contornando o Estreito de Magalhães na “Tierra del Fuego”, (já que o Canal de Panamã só seria concluído em 1914), aportando também no porto de Santos (SP), no Rio de Janeiro (RJ) e em Belém (PA) no Brasil.
Todavia, alguns (muitos) migrantes japoneses, (entre eles Yamashiro e Wasaburô), já teriam conseguido chegar a vários paises latino-americanos, (além dos EUA) fugindo da guerra sino-japonesa (1894-1895), fundando inclusive, no Brasil, uma colônia agrícola na fazenda Santo Antônio, atual município de Conceição de Macabu (então distrito de Macaé), no estado do Rio de Janeiro.
Na verdade, o velho Yamashiro (que não tinha nada de velho, pois teria falecido no máximo com menos de cinquenta anos, na década de 1910) pertencente a uma nova geração de autênticos bandeirantes, permaneceu conosco apenas o tempo suficiente para deixar sua semente oriental e uma saudade praticamente vazia, quase nostalgia, que até hoje nos intriga. A rigor, daria qualquer coisa para reviver e registrar o verdadeiro caráter, a verdadeira personalidade, as verdadeiras preocupações, alegrias e tristezas, não apenas do meu bisavô, mas de todos meus ancestrais. Este texto é provavelmente a maior prova desta vontade.
O nome Pepe Girma, como era conhecido Yamashiro no México, em nada lembrava minha origem nipônica. Os olhos rasgados do meu pai quando criança e a lembrança remota dos orientais em alguns gestos do meu primo Ernesto, hoje na faixa dos quarenta anos, mais nos pareciam de origem indígena, de qualquer forma, mal sabíamos, como constatado posteriormente, tratar-se de “la même chose”. Quero acreditar nesta aparente lógica para tentar explicar o evidente apagão das origens.
Registro aqui a facilidade (comprovada) com que os japoneses entendem alguns dialetos indígenas do interior do México (e vice-versa) confirmando terem sido gerados a partir de um tronco linguístico comum, além da grande semelhança comportamental e genética entre os povos de ambas as nações.
Pepe Girma chega então ao México no fim do século XIX, com presumíveis 22 anos, aportando na cidade de Mazatlán no estado de Sinaloa, para enfrentar, com certeza, a já arraigada burocracia existente no país e principalmente a idiossincrasia dos fiscais do departamento de migração lotados naquele porto. Muito embora a educação do povo mexicano esteja fora de questão, inclusive por vezes exagerada pela herança compulsória de submissão a que durante quase 300 anos de colonização fomos submetidos, temos que reconhecer as dificuldades enfrentadas por este tipo de burocratas que, certamente, em horário imprevisível de chegada do navio ao porto e provavelmente obrigados a fazerem a triagem para quarentena, obrigatória naquele tempo para os imigrantes, seu natural sentido do humor, teria desaparecido há muito tempo.
Nem sempre conseguem (melhor dizendo nem sempre conseguimos) dizer apenas “seja bem-vindo”, ou “nós gostamos de você” sem perpetuar uma brincadeira ou colocar um apelido em função da imagem ou da origem do visitante, sem que isto constitua qualquer tipo de discriminação. Só quem morou no meu país ou quem conviveu de alguma maneira com o povo mexicano, entende com facilidade as dificuldades do Yamashiro para provar (notadamente naquela época) que ele era ele, que seu nome era aquele e que (até por ser japonês) estaria vindo do longínquo Japão.
O certo é que, quando instado a declinar o seu nome, sem compreender uma palavra de espanhol e principalmente sem compreender o misto de boas-vindas e deboche, características peculiares do “caráter” do povo que naquele momento o recebia, o nome Yamashiro, pelo seu grau de dificuldade, tornou-se “Pepe”, apelido de “José” no México (equivalente no Brasil ao famoso “Ze”) e Girma, sobrenome do meu pai por parte de mãe, equivalente a exata pronuncia de Hiruma, provavelmente por ele mesmo enunciada para o fiscal de turno, mas efetivamente, pessimamente grafada pelo graduado funcionário da migração e que por anos e anos me fez perder a referência de alguma ascendência japonesa.
Pepe Girma, provavelmente pescador que acabou se especializando na fabricação de móveis de vime e similares, acabou contraindo matrimonio com minha bisavó Petra Sanchez, “oriundi”, (do México), porém viúva do italiano Pietro Barati, quem seguindo a sina dos estrangeiros, ou tal vez apenas sofrendo também a perseguição dos funcionários da migração mexicana, acabou perdendo a letra “i” do sobrenome herdado do seu pai, legando para seus filhos apenas o sobrenome incompleto “Barat”. O casal Girma (Hiruma) teve dois filhos maravilhosos, Carlos e Guadalupe (minha avó paterna) e ao que se sabe (em que pese o sem número de empecilhos) viveram felizes para sempre, assim, sem registros, sem vestígios, sem heranças e sem títulos. Era assim que se vivia e se morria na classe média (pré-revolução) no México, onde nasci e cresci e onde, até hoje, procuro os verdadeiros motivos de tais acontecimentos.
Todavia, o verdadeiro carma japonês se manifestaria cedo na minha vida, certamente não por coincidência e não apenas nos olhos amendoados, na cor da pele ou na estatura que, pouco ou nada diferem das características antropomórficas dos povos mesoamericanos, mas principalmente na admiração pela destreza incomensurável mostrada pelos japoneses em todo o que fazem e em todo o que já fizeram.
Sempre admirei os detalhes, o perfeccionismo, a dedicação, o equilíbrio e a obstinação dos japoneses, tanto nas artes em geral, como no artesanato, nas lutas marciais, no cerimonial, nos ritos e nas tradições. Mundo fascinante que fui descobrindo aos poucos, num quadro (da centenária Tomie Ohtake), numa escultura de marfim ou de madeira, na cerâmica requintada do Momoyama, no sofisticado preparo de suas comidas e bebidas, no cinema-arte de Kurosawa, na arquitetura-arte e técnica de Kenzo Tange e do próprio Rui Othake, filho da Tomie, (considerado por mim o melhor arquiteto brasileiro da atualidade), na arte do bonsai, que pratico com fascínio (não na pretensão de domar o crescimento das árvores, mas na férrea intenção de disciplinar a mim mesmo) e na minha (aparentemente) estranha e muito maluca fascinação pelo Sumô e pelo Taikô.
Esta herança acabou sendo maior do que poderia imaginar. Coletivamente, japoneses e mexicanos, nem sequer conseguimos fugir da odiosa belicosidade dos antigos samurais e homens ninjas ou seja lá o que isto quer dizer. O fato é que, na minha modesta opinião, numa mistura indissolúvel de tradição, agressividade, competição e prepotência, advinda de um complexo de superioridade mal resolvido, ambos os povos, (incluindo neste critério também bolivianos, peruanos, equatorianos e todos aqueles descendentes das doze tribos, que junto com os aztecas , maias, incas, quéchuas e araucanos, invadiram este continente vindos da Ásia, através do estreito de Behering), nos tornamos capazes de discriminação entre as próprias organizações tribais, menosprezando todos aqueles que não são como nós, inclusive sem saber ao certo o porquê.
O monte Fuji, para mim, sempre foi tão familiar quanto o Popocatépetl, na verdade são quase iguais. À orografia mexicana só faltam às cerejeiras em flor do outono japonês, para poder sentir o mesmo cheiro da paisagem. De resto, as mulheres, baixinhas, carregando seus filhos embrulhados nas costas, num só corpo com as mães, caminhando sempre atrás do seu homem, ou sentando na clássica postura (sem denominação em português) que tanto caracteriza as gueixas como as indígenas mexicanas, apoiando os joelhos no chão e o traseiro sobre os calcanhares, indistintamente para fazer chá, “hechar tortillas” ou lavar roupa na beira dos rios, cabisbaixas, num misto de respeito e humildade, continuam a provar a origem comum de ambos os povos .
Esta influencia japonesa, para mim existe até hoje, e tendo-se manifestado sempre ao longo da minha vida, deixou marcas, amizades, lembranças e saudades.
A família Kawabe, por exemplo, sobre a qual poderia ser escrito um livro completo, migrantes de pós-guerra, se não fundadores da colônia japonesa no México, certamente incentivadores da união da comunidade no novo país e do fortalecimento das tradições (hoje no alvorecer da quarta geração), apareceu na minha família sem que eu soubesse e nem sequer suspeitasse da amizade surgida entre os nisseis mais velhos da família e meu pai, através de relações profissionais.
A descoberta da presença do Sol Nascente no México deu-se para mim na década de 50, quando me empenhava no curso básico e os meus colegas de olhos rasgados eram o “inimigo” a ser vencido na arena do aprendizado. Matsumotos, Sekiguchis, Yoshiokas, Toshishigues e outros sobrenomes de famílias atuantes no comércio ou na indústria nacionais, destacavam-se, ainda no curso primário, pela sua inteligência e dedicação. Soube mais tarde que todos eles complementavam sua formação nos cursos extracurriculares da Escola Japonesa e, em tanto eu jogava bola (às vezes de gude), eles apreendiam japonês (fala e escrita), ábaco, artes plásticas e não sei mais o que. Sempre me impressionaram pela sua competitividade e obstinação. Mais tarde, já em plena adolescência tornaram-se companhias inseparáveis nas festinhas de sábado à noite em que reinavam os “Platters”, “Ray Conniff” e o próprio Elvis a quem imitávamos no topete, independentemente da nossa origem genética.
Conheci Sachie Kawabe, minha amiga nissei do peito até hoje, em l958 e gradativamente, nos anos subseqüentes, a família toda. O velho Kawabe, de quem aprendi a não desperdiçar nenhum grão de arroz (vocês não sabem o trabalho que dá cultiva-lo, dizia); a matriarca, querida e saudosa “Obachan”, batalhadora, centralizadora e possuidora de toda a filosofia oriental que ensinava aos poucos, em comprimidos homeopáticos, a próprios e estranhos para que pudéssemos compreender o mundo em que vivíamos. Helena e Teruko, suas irmãs, Shigue-nori o saudoso irmão casula, já falecido. Família encantadora da qual só recebi carinho e ensinamentos.
Obachan (termo respeitoso em japonês equivalente a “senhora”) virou nome próprio. Nome de batalha, sinônimo de garra, de empreendimento, de quem segura a própria peteca e a de todos aqueles que dela se aproximavam. Casou por procuração, sem conhecer o marido. Ele no México, ela no Japão (em plena segunda grande guerra). Por determinação paterna, viajou já casada para Tijuana. Assumiu suas responsabilidades e, mesmo viúva, com os filhos em formação, só continuou sua caminhada espiritual quando todos tinham condições de sustento. Deu-me a oportunidade de participar, como arquiteto, do empreendimento que sob a sua coordenação, resultou em sucesso absoluto, nem tanto pelo seu retorno financeiro, como principalmente pela visão comercial, que consolidou, há quase 50 anos, a verdadeira febre pela degustação da comida japonesa no ocidente: o SATSUKI, primeiro restaurante japonês da cidade do México, foi uma feliz e satisfatória experiência pela qual não recebi honorários profissionais, mais apreendi a comer (sempre de graça) o “tamago-yaki” preparado por Obachan em frigideira quadrada e o que é mais importante, preparado (com amor) exclusivamente para mim e na minha presença. Outras comidas preparadas na clandestinidade do restaurante, “from Helena’s Kawabe Kitchen”, mistura deliciosa digna dos deuses do olimpo, entre as cozinhas mexicana e japonesa, também me eram franqueadas me fazendo sentir, depois de alguns anos, verdadeiramente aceito e integrado à família Kawabe.
Esta intensa convivência, ainda presente na minha vida e com a qual concluo minha homenagem ao Sol Nascente, ao Imperio esplendoroso e cheio de mistérios dos meus amigos de olhos amendoados em geral e ao meu bisavô Yamashiro Hiruma em particular, permitiu-me participar de uma reunião familiar na casa dos Kawabe, na colônia Cuauhtemoc da cidade do México (como participei de outras tantas nas quais bebi sem limites da profunda e milenar filosofia oriental).
Década de 1960, estouro da pílula anticoncepcional, “Womens Lib”, queima de soutiens na França e nos EUA, década do ano que nunca acabou como nos diz de 68 o grande Zuenir Ventura, tempo de esticar os limites, do crescimento dos divórcios, das separações e dos abortos. Prenuncio de Woodestock, dos Hippies, do Peyote Chamula, do esplendor de Maria Sabina e Simone de Beauvoir (e do fim das virgens).
A reunião com os Kawabe e amigos, pegando fogo. Obachan participava quietinha. Seu silêncio, sempre marcante pela sua sorridente presença, impunha o respeito necessário. Ela sempre se pronunciava no fim das reuniões e dificilmente sua opinião deixava de ser acatada, em que pese a irreverência da nova geração, entre a qual eu me incluía. O tema na ocasião era a incidência, em crescimento vertiginoso, dos casamentos nisseis em que a noiva se apresentava à cerimônia “ligeiramente grávida” (na colônia japonesa da época, como em todas as pequenas comunidades, mais cedo ou mais tarde, tudo se sabia).
Opiniões discordantes e acaloradas; a favor, os jovens com a vida pela frente, (argumentos mil); contra, os mais conservadores, sem importar a idade, (argumentos mil). Obachan sentada em silêncio, balançava as curtas perninhas que Deus lhe deu, porque não chegavam até o chão.
Empate. Sem conclusões. Ninguém ganha, ninguém perde.
A participação da experiência se torna indispensável e alguém pergunta a opinião da matriarca. O silêncio se faz. Todos escutam e na tradução mais sabia, profunda, prática e simples da milenar filosofia oriental, escutamos a tão esperada participação que encerrou definitivamente a discussão e a própria reunião familiar de sábado à tarde: EU NÀO DIZENDORO NADA, NO?, PORQUE TENDORO FILHAS CASADEIRAS E NUNCA SABENDORO QUANDO ABRINDORO AS PERNAS, NO?

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O CENTENÁRIO DO POETINHA

VINICIUS DE MORAES Embora faltando cinco meses para a efetiva comemoração do centenário do nascimento de Vinicius de Moraes (19 de outubro de 1913) os irmãos do Frei Luiz, através do SOM (Serviço de Orientação Mediúnica) decidiram, em mais um evento cultural SOM-ARTE, prestar homenagem a este grande brasileiro, diplomata, dramaturgo, jornalista, poeta e compositor, conhecido popularmente, inclusive pela sua boêmia e pela fama de ter sido um inveterado conquistador. (Casou-se nove vezes e quando seu parceiro e amigo Tom Jobim, perguntou: Afinal, Vinicius, “quantas vezes você pretende se casar”? Ele respondeu sem titubear: “Quantas forem necessárias, meu caro Tom”).
Assim, orgulhosamente integrante do SOM e admirador e fã incondicional deste Mestre da Poesia, decidi também adiantar a minha homenagem, de forma que este mês, o tradicional mês das noivas e dos pretos velhos, fica dedicado ao poetinha da Gávea, ao poetinha de Ipanema, do Jardim Botânico e de todos os bairros do Rio, não apenas porque ele merece, mas principalmente por ter sido também, responsável pela minha vinda para a cidade maravilhosa.
Provavelmente 1967-68, os LP’s do Vinicius (os hoje procurados vinis) eram tocados na velha vitrola do meu ateliê de arquitetura na cidade do México até agulha perfurar as minhas queridas bolachas importadas, cobiçadas pelos meus colegas e amigos. Eu me empenhava para ganhar uma bolsa de estudos que me descortinaria o Pão de Açúcar, o Cristo Redentor, a praia de Ipanema e principalmente o Carnaval; a arquitetura e o urbanismo viriam depois, a seu devido tempo. Era necessário primeiro, falar a língua do Pelé, da Ellis, do Jorge Bem, da Elza Soares, da Divina Elizete e da esplendorosa Leny Andrade (que contratada para se apresentar no México por uma semana, ficou mais de dois anos fazendo sucesso, dia após dia, no “Señorial” da turística “Zona Rosa” mexicana, junto com o Pery Ribeiro e o Gêmini V). Engraçado que na época nunca me passou pela cabeça que a língua almejada seria a do Fernando Pessoa, a do Eça de Queiróz, a de Guimarães Rosa, a do Carlos Drummond de Andrade, do Machado de Assis e assim por diante. Os sonhos brasileiros daquele estudante de arquitetura mexicano, do alto dos seus 21 anos, eram encharcados de jíbaros redutores de cabeças do alto amazonas, de filmes como “Orfeu de Carnaval”, (a Palma de Ouro de Cannes em 59) de músicas como a insuperável Garota de Ipanema (até hoje a mais tocada no mundo, inclusive e principalmente pela trinca formada pela Astrud Gilberto, o Stan Getz e obviamente o maestro Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, o Tom, amigo e parceiro do Vinicius, o Tomzim querido) e o carnaval e a tradicional “Estação Primeira da Mangueira” (Rios, cachoeiras e cascatas, lindos pássaros e matas que engrandecem a Nação).
Todavia, uma destas bolachas de vinil, me marcou mais do que todas as outras, canalizava minha atenção a ponto de passar as tardes e muitas das minhas noites tentando traduzir as falas do grande poeta. Meu prezado amigo Diego Manrique Acuña foi testemunha e parceiro nesta odisseia que arrebatava nossos sonhos de juventude. Chegamos a planejar uma viagem de carro entre a cidade do México e o Rio de Janeiro, que se tornou absolutamente impensável pelo custo proibitivo de uma jornada de mais de 45 dias ao longo de mais de 25,000 quilômetros de riscos e sobressaltos. O sonho, que parecia uma aventura maior do que as nossas pernas, ficou apenas adiado por algum tempo e em agosto próximo fará 44 anos sem que tivesse (ainda) a necessidade de acordar.
Tratava-se de um disco inesquecível da “Gravadora Elenco”, 33 RPM, ainda mono aural, intitulado: “Vinicius e Caymmi no Zum Zum”, 1967, com o quarteto Em Cy e o conjunto do Oscar Castro Neves. Neste LP, o poeta declama (O Dia da Criação), canta (Broto Maroto, Formosa e outras), fala de amor, (Minha Namorada, se eu fosse solteiro…. com as quatro casaria….se referindo as baianinhas do quarteto Em Cy), fala de saudade (longe do solo pátrio, num sete de setembro, no Porto do Havre, numa noite sem qualquer perspectiva na tristeza dum quarto de hotel que da para toda a solidão do mundo em que, como sempre, nos diz o poeta, “escrevo cartas que nunca mando”); nos fala das iguarias brasileiras que ansiosamente espera comer logo que pisar na Cidade Maravilhosa (tutu com torresminho, galinha ao molho pardo, arroz soltinho e “papos de anjo”, como só a mãe da gente sabe fazer) e do sucesso dos Afro Sambas do Baden em Paris e da garota de Ipanema nos EUA. Outro sonho.
Assim, meu desejo de participar da homenagem ao Grande Vinicius, prestada pelo meu grupo do SOM-ARTE foi imediata, mas numa constatação obvia (também imediata) lembrei que não sei cantar, que longe estou de compor alguma música que preste, que mal consigo tocar a campainha lá de casa, muito menos um instrumento, que não danço e nem sequer sou capaz (com as minhas palhaçadas) de apresentar algum número de malabarismo ou prestidigitação.
Restou-me apenas a escrita, aquela minha vocação tardia.
Quem sabe fazer uma poesia para o homenageado da vez seria a minha contribuição para comemorar seu centenário de nascimento, uma poesia em que pudesse transmitir a minha admiração pelo grande Marcus Vinicius da Cruz e Mello Moraes (1913-1980). Este seria meu objetivo.
Todavia, a grande ideia não conseguiu passar da intenção. A minha inspiração ficou muito aquém da grandiosidade do querido poetinha. Ainda tentando participar da homenagem, numa atitude teimosa, porém saída do coração (do mesmo coração daquele jovem estudante de 44 anos atrás) e ciente das minhas limitações, me ocorreu fazer uma poesia a três mãos (duas do Vinicius e uma minha para conduzir os versos do homenageado, isto é, uma poesia de autoria do próprio Vinicius com versos selecionados (como em qualquer antologia, porém consolidada numa única poesia, que intitulei “ETERNAS PARCERIAS”) e que reproduzo a seguir, não apenas como a minha homenagem pessoal ao poeta do amor, mas como forma de lembrar à meia dúzia dos meus quatro leitores, a explosão cultural que este País experimentou entre 1955, (iniciada pela literatura, o Cinema Novo, a copa conquistada na Suécia e a Bossa Nova, passando pelo grande Presidente JK a Palma de Ouro de Cannes, a inauguração de Brasilia e mesmo o “bicampeonato” do Chile, até que em 1964,  as ideias de grandeza dos militares e principalmente, um medo doentio e irrefreavel do comunismo que, como se dizia à época, “era capaz de comer criancinhas”, adiaram “sine die” o esplendoroso futuro do Brasil.

ETERNAS PARCERIAS
Porto do Havre, 07 de setembro de 1964,
Tomzim querido,
Morrendo de saudades na solidão deste quarto de hotel que dá para uma praça,
que dá para toda a solidão do mundo, escrevo para você,
como sempre, cartas que nunca mando.

Porque hoje é sábado, o dia da criação,
saudades da nossa terra, do arroz branco soltinho e dos papos de anjo,
como só a mãe da gente sabe fazer.
Porque hoje é sábado, amanhã domingo.

Na verdade, não mais escrevo do Havre e
a melancolia já abandonou o meu coração há muito tempo.
Hoje sinto a tua presença e tua alegria, minha poesia se enriquece.
Sou o poetinha, teu parceiro e amigo.

Canto sem parar, contigo e com todos os meus parceiros,
assino meus versos com seus nomes.
Em seu louvor hei de espalhar meu canto,
rir meu riso e derramar meu pranto.

Escrevo por hábito e por prazer, amigo infinito,
porém, não mais é necessário, meu pensamento já te alcança.
Peço perdão por te amar assim, tanto e tão de repente,
acho que é vicio, amei sempre mais do que devia.

Mas não é o amor daquela chama,
é o amor fraterno que me chama.
E se um dia hei de ser pó, cinza e nada,
que seja a minha noite uma alvorada.

Maior amor que o meu não existe,
que não sossega a coisa amada,
e quando a sente alegre, fica triste,
e se a vê descontente, dá risada.

Louco amor meu, que quando toca fere
e quando fere vibra, mas prefere
ferir a fenecer – e vive a esmo.
Que me saiba perder… pra me encontrar..

Enfim, depois de tanto erro passado,
tantas retaliações, tanto perigo,
eis que ressurge noutro o velho amigo,
nunca perdido, sempre reencontrado.

É bom sentá-lo novamente ao lado,
com olhos que contêm o olhar antigo.
Sempre comigo um pouco atribulado,
e como sempre singular comigo.

Percebo em ti, Tom, os mil amigos e parceiros,
descubro o amor incondicional em pleno.
O ombro amigo e a corrente fraterna mais do que infinita,
a paz no coração e o fim do meu fastio.

Meu são Francisco de Assis, Francisco de Assim, poverello,
ou como te chame a sabedoria dos povos e dos homens,
este é Vinicius de Moraes, de quem se podia dizer – o poeta –
se jamais alguém o pudesse ser depois de ti.

E afinal, meu São Francisco, quem pagará o enterro e as flores
se eu morrer de amores?
Quem, dentre amigos, tão amigo
para estar no caixão junto comigo?

Porque hoje é sábado, amanhã é domingo,
e a vida vem em ondas, como o mar,
e os bondes andam em cima dos trilhos,
e Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na Cruz para nos salvar.

Porque afinal eu creio na alma
nau feita para as grandes travessias
que vaga em qualquer mar e habita em qualquer porto.
Eu creio na alma imensa.

Meus caros volta-se porque se tem saudade
porque se foi feliz intimamente.
Volta-se porque se tocou num inocente
e porque se encontrou tranquilidade.

E assim é que partindo,
eu vou voltando e vou levando
toda a desolação de um até quando,
num ardente desejo de até breve.

E quando mais tarde me procures
quem sabe a morte, angústia de quem vive,
quem sabe a solidão, fim de quem ama
eu possa lhe dizer do amor (que tive):
que não seja imortal, posto que é chama
mas que seja infinito enquanto dure.

Rio de Janeiro, maio de 2013

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MARILIA MARZULLO PÊRA

Dona Marilia Pera Aproveito a minha firme intenção de prestar homenagem (a cada mês e sempre que possível) para resgatar uma dívida moral que se arrasta há muitos anos. Nunca soube ao certo o verdadeiro motivo, mas cheguei a conclusão (quase que evidente) de que se tratava de puro preconceito. Uma dívida preconceituosa que me impediu, por anos, perceber a intensa luz de uma estrela do meio artístico nacional, amplamente conhecida, de nome MARILIA MARZULLO PÊRA.
Marilia canta, Marilia dança, Marilia atua, Marilia produz, é coreógrafa e dirige peças e espetáculos musicais. Pisou no palco pela primeira vez aos quatro anos de idade e nunca mais parou, pelo contrário, extremamente versátil, consegue acrescentar a cada dia, mais uma modalidade capaz de enriquecer a sua personalidade. È perfeccionista e por se fosse pouco, Marilia também escreve (muito melhor do que poderíamos imaginar), além de ser mãe de três filhos.
Hoje, lamento (profundamente) ter perdido muitos grandes momentos que esta estrela brindou para seu público ao longo dos anos. Sua imagem defendendo a candidatura do “exterminador de marajás” nas eleições presidenciais de 1989 ofuscou minha visão da sua arte. Felizmente tive a recente oportunidade de assistir algumas das suas entrevistas concedidas à mídia televisiva e fiquei comovido por dois motivos que saltaram aos meus olhos preconceituosos, sua humildade perante a vida e sua consciente colocação de eterna aprendiz perante a arte.
Não privo da sua amizade, nem sequer sou seu conhecido (o que também lamento), a encontrei apenas uma vez nos (des)caminhos da vida e fui incapaz de falar com ela, nem que fosse apenas para pedir um autógrafo; me limitei a observar a sua figura em perfeito equilíbrio (como só as dançarinas disciplinadas costumam adotar) e o consequente porte de alguém que se sabe famosa, mas sem ousar qualquer gesto de prepotência, nem sequer o nariz empinado que costuma caracterizar aquelas estrelas (fugazes) de efêmera luminosidade. Ela, pelo contrário, brilhava como sempre o fez, apenas meu olhos eram incapazes de acabar com a sinistra figura do Collor apagando o fulgor próprio da Diva.
Revendo alguns dos seus melhores momentos na dramaturgia nacional, me deparei com a magnífica e inesquecível Maria Monforte (personagem central dos MAIAS, do escritor português Eça de Queiroz, adaptado à televisão brasileira em minissérie escrita por Maria Adelaide Amaral e João Emanuel Carneiro em 2001) o que me fez rever todos os meus conceitos a respeito desta insuperável atriz.
Já velha, sifilítica, arrependida de toda uma vida de dissipação, volta à quinta do “Ramalhete” para se despedir do filho……..Poucas vezes tive a oportunidade de ver atuações tão relevantes quanto esta, quem sabe D. Fernanda Montenegro, ou a D. Abigail Izquierdo Ferreira, nossa prezada Bibi Ferreira, fossem também capazes de semelhante presença. Em nível Internacional, provavelmente, apenas Liv Ullmann.
Mas falando desta notável atriz, japonesa de nascimento e norueguesa por opção, não deve ter sido por acaso que a Marilia foi convidada em 1980, para prefaciar o livro “Liv Ullmann sem Falsidades” de David E. Outerbridge (Editorial Nórdica Ltda. Rio de Janeiro / 93 págs.).
Na ocasião, a Marilia nos confidencia ter recebido um bilhete da D. Tonia Carrero que, do alto da sua experiência e maturidade nas lides do teatro brasileiro, escreveu para ela: “Uma estrela é uma estrela. È uma estrela”. È verdade! Mas também é verdade que “uma atriz é uma atriz. É uma atriz. É uma atriz! É uma atriz!”.
Nada mais significativo para alguém que já na maturidade, mostrava ainda uma potencialidade ilimitada (como o próprio tempo se encarregaria de demonstrar).
E também, não foi por acaso que nas páginas deste livro, D. Liv, nos descreve (sem conhecer) a magnificência da Maria Monforte e a plenitude da Marilia quando nos diz:
“Se você entrar no palco com raiva, ou com uma dor particular e pensas que poderás utiliza-las para extrair a tristeza necessária para facilitar o teu choro em cena; tuas lágrimas não vão tocar ninguém, porque elas são as tuas lágrimas e não as lágrimas da personagem”.
Marilia (Maria) Callas, Marilia (Carmen) Miranda, Marilia (Dalva) de Oliveira, Marilia (Coco) Chanel, Marilia (Sarah) Kubitschek, Marilia (divina) Pêra, são apenas uma, são apenas Marilia Pêra, a que ousou prestigiar a candidatura do “exterminador de marajás” de triste memória para o Brasil e que me fez viver tantos anos no obscurantismo e no preconceito.
Minha mais sincera homenagem a esta SENHORA do teatro e do mundo dos espetáculos.
Que o seu profissionalismo, como a própria vida, lhe permitam perpetuar, (valha o necessário pleonasmo) para sempre, a sua arte.
HB

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VALENTINA RAMIREZ HERMOSO

Valentina II Como não poderia deixar de ser, a nossa homenagem do mês de março vai para a mais nova herdeira da família, minha sobrinha neta, Valentina Ramirez Hermoso (La hija del Pollo y de mi sobrinita Anamary). Valentina viu a vovó e a luz, completamente nua em que pese o frio intenso de um inverno prolongado na sua cidade natal, a cosmopolita e sonhadora Gotham City, também conhecida como Metrópolis, ou simplesmente como Nova York, onde antigamente existiam altíssimos índices de criminalidade e corrupção. Não me lembro, (como integrante da geração do pós guerra) de nada mais fascinante do que a incorruptibilidade da dupla dinâmica (Batman e Robin) e a agilidade do próprio Superman – Clark Kent, agindo implacáveis contra as “gangs” de criminosos em geral.
Esta realidade a fez rivalizar com a sangrenta Chicago dos anos 30, quando os EUA escondiam a bebida por uma descabida lei (aparentemente seca) que os obrigou a engarrafar o pior Whisky já produzido no mundo. Evidentemente, como consequência, os maiores super heróis das histórias em quadrinhos assim como os maiores bandidos e mentes criminosas se congregaram nesta pujante metrópole; uns para tirar proveito de uma polícia claudicante e corrupta e outros para tentar limpar a cidade, moralizando o planeta. Esta conduta parece caracterizar os conterrâneos da minha sobrinha neta até hoje. Acho porém, que não conseguiram, mas certamente alimentaram os sonhos de várias (muitas) gerações fanáticas por cinema e pelos hoje valorizadíssimos “Comics”.
Neste sentido, ao longo do tempo, se consolidaram como personagens tipicamente novaiorquinos, Bruce Wayne (Batman), Alan Scott (o Lanterna Verde) e o simpático gordinho da década de 1950, George Reeves (Super Homem). Hoje, não tenho nenhuma dúvida em acrescentar a esta lista de nomes, o do ator, diretor,escritor, roteirista, produtor, neurótico e clarinetista Woody Allen, assim como, a partir de segunda feira, dia 11 de março de 2013, às 19:33 hora local, a minha querida VALENTINA.
Minha sobrinha neta, a seu devido tempo, conhecerá estas e outras histórias e certamente, daqui a vinte anos, recorrerá ao HBlog do tio avô, para conhecer sua forma de pensar, o que eu nunca tive com relação aos meus antepassados.
Assim, em plena comemoração pelo seu nascimento, arrisquei (como é do meu feitio) alguns versos de boas vindas que, obviamente, vão com todo meu amor e a ternura de que sou capaz e que intitulei “EL CORRIDO DE LA VALENTINA”:

Valentina mexicana, guerrera de exportación,
serás marchanta guerita, en tu casa y en la plaza.
Ya empiezas el mes de marzo, representando tu raza.
gringa diferente, caliente, te abrazo de corazón.

Valentina, Valentina,
Valentina de Jesús.
Amiga de la Adelita, soldadera valiente,
y de Juana Gallo también.

Tu nombre mi Valentina, me sabe a revolución.
huele a pólvora mojada
y a tierra ardiente sin fin.
Saliste com carabina, ya com toda razón.

Valentina, Valentina yo te quisiera decir,
que hoy te ofrezco este corrido,
previendo un futuro feliz.
Canta y encanta(nos) Valentina, cuenta(nos) lo ocurrido.

Valentina, Valentina, uma pasión me domina,
eres la herencia, matriz,
vienes para vivir, aprendiendo todo de nuevo.
Valentina, mi querida, estoy rendido a tus piés.

Eres sobrina nieta del que te canta sin ver,
eres la luz Valentina, mi corrido vá de nuez.
No necesito tequila ni de ingerir un Jerez,
si me han de matar mañana que me maten de uma vez.

HB
11/03/2013

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DOM FRANCISCO PRIMO DE PIERIO VERDAD Y RAMOS I

PARENTE Com a intenção de registrar a participação da família Borges Flores Verdad nas homenagens anuais realizadas pelas autoridades constituídas do Distrito Federal, capital da República Mexicana, sempre em 04 de outubro de cada ano, visando à comemoração lutuosa do seu ilustre ancestral, o prócer Dom Francisco Primo de Pierio Verdad y Ramos, protomártir da Independência do México, reproduzo, a seguir, o primeiro destes eventos, dentro da nova estrutura política do País, realizado em 2008, coincidente com o bicentenário do seu falecimento.
Nessa ocasião coube a minha irmã caçula, Zoraida Borges Flores Verdad, a representação familiar no agradecimento às autoridades promotoras do evento y principalmente, na elaboração e pronunciamento do discurso em homenagem a Dom Francisco, finalmente recolocado no seu verdadeiro lugar na hierarquia dos heróis e homens ilustres da pátria mexicana.
Todavia, abrindo esta série de homenagens, que se pretendem anuais de agora em diante, me permito transcrever inspirada poesia de autor anônimo, catalogada no “Archivo General de la Nación” e identificada como “A LA PRIMERA VÍCTIMA SACRIFICADA POR LA PATRIA, EL LICENCIADO DON FRANCISCO VERDAD Y RAMOS, SÍNDICO PROCURADOR DEL COMÚN DE LA EXCELENTÍSIMA CIUDAD DE MÉXICO, NATURAL DE LA VILLA DE AGUASCALIENTES” e registrada pelo professor Rogelio López Espinoza no seu livro “ El Prócer Olvidado: Vida y obra del Licenciado Don Francisco Primo de Pierio Verdad y Ramos”, publicação da Secretaria de Cultura do Estado de Jalisco, México (2008/340 págs.).
Esta poesia circulou durante a década da luta pela independência mexicana, o que mostra claramente como, desde o início do movimento insurgente, o Advogado Verdad y Ramos já era considerado o protomártir desta magna causa:

Salga mi voz envuelta entre gemidos
que llegando hasta el alto firmamento,
hagan patente al orbe mi querella
y los terribles males que padezco.

La parca inexorable….No la parca,
sino una turba peor que bandoleros
la vida le quitaron a aquel hombre
que fue de mil virtudes el modelo.

Decir Verdad lo justo fue tu crimen;
el defender la patria , desacierto.
Por esto a las masmorras le conducen,
de deshonor cargándoles de hierros.

Espadas, bayonetas y fuziles
que debieran usar em los ejércitos,
saltar paredes y romper las puertas
es lo que se usa contra el indefenso.

Y quiere com los inditos campeones
que a tan fiera batalla acometieran?
Fueron acaso Cides o Scipiones,
Gonzalos, Laras o Portocarreros?

Ninguno de ellos sino gachupines,
los de la antigua España, ínfimo pueblo,
los que prenden virreyes descuidados,
los que la religión no guardan fuero.

Estos fuertes vascones…..!Que no caigan
mil rayos a cada uno, de los cielos!
!que no se abra la tierra y los sepulte!
!que no acaben sus vidas los venenos!

Apuestos son los jueces, los testigos,
los aprehensores y éstos el proceso
forman al abogado mas virtuoso,
a quien por ser instruído le temieron.

!Temblad malvados, porque el ojo justo
que ve com claridad vuestros enredos,
levantará su brazo omnipotente
y los destruirá como a la paja em el fuego!

!Temblad, temblad!…..Mas, para que me canso?
La victima primera de este suelo,
esta inocente víctima no clama
pidiendo, sin pedirlo, um escarmiento?

Ya parece que veo desde su tumba,
en forma triste de horroroso aspecto,
al cielo pide en lúgubres razones,
que vuelva por su causa justiciero.

Ya veo que su família mendicante,
padece difamada y sin sustento
Y que también padecen muchas gentes,
que bajo de su auspicio habían consuelo.

Y tú, patria oprimida, mira a tus hijos,
a aquel hijo entre todos, predilecto,
al que por defenderte, dio su vida,
lleno de heroísmo hasta el postrer aliento.

Esta primera victima inmolada,
a la común salud está exigiendo,
lágrimas de dolor…..!Americanos,
lloremos sin cesar, todos lloremos!

El gesto de aflicción y de amargura
del rostro no se aparte, y los cabellos
esparcidos sin orden y arrancados,
de nuestra cruel congoja sean diseño.

Llorad su muerte, leones sanguinários,
hambrientos lobos, tímidos corderos,
tortolita que vives en el olmo,
raptor halcón y manso pichonzuelo.

Llorad hasta las piedras insensibles.
Llorémosle los poetas en los avernos.
La elocuencia lo llore em sus primores,
esto y más se haga, que es debido obsequio.

DISCURSO ELABORADO Y PROFERIDO EN 04/10/2008 POR ZORAIDA BORGES FLORES VERDAD, DURANTE EL HOMENAJE LUCTUOSO REALIZADO POR EL GOBIERNO DEL DISTRITO FEDERAL AL PROCER MEXICANO, LIC. FRANCISCO DE PIERIO VERAD Y RAMOS EN EL BI-CENTÉSIMO ANIVERSÁRIO DE SU FALLECIMENTO.

• LIC. INTI MUNOZ SANTINI
Director General del Fideicomiso del Centro Histórico,
Representante del Lic. Marcelo Ebrard Casaubon
Jefe de Gobierno del Distrito Federal

• HONORABLE PRESIDIUM

• FAMILIARES Y AMIGOS

• EDUCADORA ROCIO ALONSO
Directora del Jardín de Niños Francisco Primo de Verdad y Ramos.

DISTINGUIDOS CONCIUDADANOS:

A NOMBRE DE MIS HERMANOS: HUMBERTO, ANA MARÍA, BEATRIZ Y DEL MIO PRÓPRIO, DESEO AGRADECER A LAS AUTORIDADES DEL GOBIERNO DE LA CIUDAD DE MÉXICO, ESPECIALMENTE A LA C. ELENA CEPEDA DE LEÓN, SECRETARIA DE CULTURA Y A LA LIC.GUADALUPE LOZADA LEÓN, COORDINADORA DEL PATRIMONIO HISTÓRICO, ARTISTICO Y CULTURAL DE LA MISMA SECRETARÍA, POR SU GENEROSIDAD Y SENSIBILIDAD HISTÓRICA, AL RESTITUIR, DENTRO DEL CALENDARIO CíVICO DE NUESTRA CIUDAD, LA FIGURA DEL PROTOMARTIR DE NUESTRA INDEPENDENCIA Y SITUARLO EM EL LUGAR QUE MERECE, ADEMÁS DE RENDIRLE HOMENAJE PRECISAMENTE HOY 4 DE OCTUBRE, AL CONMEMORARSE LOS 200 AÑOS DE SU COBARDE ASESINATO.
ESTAMOS REUNIDOS AQUÍ, PARA HACER UN RECONOCIMIENTO A QUIEN HACE DOS SIGLOS SE ATREVIÓ A DESAFIAR A LAS INSTITUCIONES Y AUTORIDADES DEL VIRREINATO, EN LOS ALBORES DEL SIGLO XIX.
RECORDAR EL SACRIFICIO DEL PATRIOTA FRANCISCO PRIMO DE VERDAD Y RAMOS ES, EN ESTOS MOMENTOS, QUIZÁ MÁS IMPORTANTE QUE HACE VARIAS DÉCADAS, CUANDO NUESTRA FINADA MADRE, ANA MARÍA FLORES VERDAD, ERA INVITADA ANUALMENTE AL SALÓN DE CABILDOS, UBICADO EN EL EDIFICIO QUE HOY ALBERGA LA SEDE DEL GOBIERNO CAPITALINO, CON EL FIN DE RENDIR HOMENAJE A TAN INSIGNE PRÓCER.
HABLAR COMO DESCENDIENTE DEL LIC. VERDAD Y APROVECHAR ESTA INTERVENCIÓN PARA CITAR DATOS BIOGRÁFICOS Y FECHAS, CONSTITUIRÍA UNA AMBICIÓN HISTORIOGRÁFICA QUE DEJO A LOS ESPECIALISTAS EN LA MATERIA.
DESEO APROVECHAR ESTA TRIBUNA PARA MANIFESTAR QUE NOS SENTIMOS COMPROMETIDOS A MANTENER VIVO EL PENSAMIENTO LIBERAL DE NUESTRO ILUSTRE ANTEPASADO Y QUE HOY, ANTE LA GLOBALIZACIÓN, EL RETO QUE TENEMOS, COMO ORGULLOSOS, CONCIENTES Y CONGRUENTES MEXICANOS, ES LUCHAR POR CONSERVAR LA IDENTIDAD NACIONAL Y LOS VALORES PATRIOS, NO OLVIDAR Y RENDIR TRIBUTO A LOS HÉROES QUE, CON SU VIDA, PAGARON LA LIBERTAD Y SOBERANÍA QUE NOS FUERON HEREDADAS, Y QUE ANTE EL ESTADO QUE GUARDA HOY EN DÍA LA COSA PÚBLICA, SE VEN AMENAZADAS CADA DÍA MÁS POR LOS GRUPOS QUE DETENTAN EL PODER ECONÓMICO INTERNACIONAL, LAS OLIGARQUÍAS NACIONALES Y LOS PODERES FÁCTICOS.
LA NACIÓN ESTÁ ÁVIDA DE ESTADISTAS Y LÍDERES PATRIOTAS Y VISIONARIOS, QUE DEFIENDAN EN LOS HECHOS, LOS VALORES QUE NOS FUERON INCULCADOS POR NUESTROS PADRES Y MAESTROS EN AQUEL MÉXICO DE LOS AÑOS 50 Y 60, CUANDO NUESTRO PAÍS, COMO PALADÍN DE LATINOAMÉRICA, ASUMÍA SU DESTINO SIN SUBORDINACIÓN, Y TODAVÍA NO CLAUDICABA EN SU INTENTO POR EJERCER SU SOBERANÍA.
DOS SIGLOS NOS SEPARAN DE NUESTRO ILUSTRE ANTEPASADO, PERO NUESTRA IDEOLOGÍA NOS UNE. MÉXICO, EN ESTA HORA DE CONCUSIONES, SÍ CONCUSIONES, TENTACIONES Y DEFINICIONES, ESTÁ OBLIGADO A EVOLUCIONAR Y DEFENDER EL NO RETORNO AL COLONIALISMO, EN NINGUNA DE SUS FACETAS O ACEPCIONES, PARA LO CUAL LA MEMORIA HISTÓRICA, LA CONCIENCIA SOCIAL Y LA MOVILIZACIÓN SERÁN DEFINITORIAS.
RECUPEREMOS Y HAGAMOS REALIDAD EL CONCEPTO MANIFESTADO POR EL LIC. VERDAD, EN CUANTO A QUE EL PUEBLO ES FUENTE Y ORIGEN DE LA SOBERANÍA.
LOS MEXICANOS SOMOS LOS VERDADEROS DUEÑOS DE ESTE PAÍS Y DE SUS RIQUEZAS, Y COMO TALES DEBEREMOS ACTUAR.
EN ESTA MISMA LÍNEA DE PENSAMIENTO, CITO AL SOCIÓLOGO POLÍTICO MAURICE DUVERGER QUIEN CONCEPTUALIZÓ:
“TODA DESPOLITIZACIÓN FAVORECE EL ORDEN ESTABLECIDO, LA INMOVILIDAD Y EL CONSERVADURISMO”.
FINALMENTE, MIS HERMANOS Y YO AGRADECEMOS AL GOBIERNO DEMOCRÁTICO Y LIBERAL DEL DISTRITO FEDERAL, ENCABEZADO POR EL LIC. MARCELO EBRARD CASAUBON, Y DAMOS GRACIAS A LA VIDA POR HABER PODIDO LLEGAR A CONMEMORAR LOS DOSCIENTOS AÑOS DE LA PÉRDIDA DEL MÁRTIR Y PRECURSOR DE ESTA PATRIA.

MUCHAS GRACIAS
Lic. Zoraida Borges Flores-Verdad
4 de octubre del 2008

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DOM FRANCISCO PRIMO DE PIERIO VERDAD Y RAMOS II

FPPVR Em 2009, durante as cerimônias realizadas pelo bicentéssimo primeiro aniversário lutuoso de Dom Francisco, a responsabilidade pela redação e o pronunciamento do discurso familiar perante as autoridades do Distrito Federal, foi da minha irmã Ana Maria. Pela segunda vez nesta nova oportunidade de lembrar os feitos do nosso ilustre parente, a família Flores Verdad se pronunciava, não apenas para ecoar a firmeza e a determinação do protomartir da nossa independência, mas, perante a caótica situação política nacional, exteriorizar a insatisfação de grande parte da população com os desmandos, o cinismo e a roubalheira dos políticos integrantes dos partidos maioritários, a esta altura já indisfarçável.
A misteriosa morte deste prócer nacional nunca foi devidamente esclarecida, alguns falam de envenenamento, outros de enforcamento com a própria gravata (tipo Vladimir Herzog) e as autoridades èspanholas à época constituidas, ficaram convencidas de se tratar de simples e reles suicídio.
Desta forma, registramos a seguir o discurso pronunciado por Ana Maria Borges Flores Verdad:

DISCURSO PROFERIDO EN 04/10/2009, POR ANA MARIA BORGES FLORES VERDAD, DURANTE EL HOMENAJE LUCTUOSO REALIZADO POR EL GOBIERNO DEL DISTRITO FEDERAL AL PRÓCER MEXICANO, LIC. FRANCISCO PRIMO DE VERDAD Y RAMOS EN EL BI-CENTESIMO PRIMERO ANIVERSARIO DE SU FALLECIMENTO.

Buenos dias.

C. CRISTINA JOSEFINA FAESLER BREMER
Directora del Museo de la Ciudad de México, de la Secretaría de Cultura.
Representante del Lic. Marcelo Ebrard Casaubon, Jefe de Gobierno del Distrito Federal.

Representante de la Asamblea Legislativa del Distrito Federal, 5ª. Legislatura

Representante del Honorable Tribunal Superior de Justicia del Distrito Federal.

Senadora MARÍA DE LOURDES ROJO E INCHÁUSTEGI, Representante de la Honorable Cámara de Senadores

Diputado ROBERTO REBOLLO VIVERO
Diputado JOSÉ LUIS JAIME CORREA
Diputado CÉSAR DANIEL GONZÁLEZ MADRUGA
Representantes de la Honorable Cámara de Diputados

Lic. AGUSTÍN TORRES PÉREZ
Jefe de la Delegación Cuahtémoc

Lic. GUADALUPE LOZADA LEÓN
Coordinadora del Patrimonio Histórico, Artístico y Cultural, de la Secretaría de Cultura.

C. ALEJANDRO FERNÁNDEZ RAMÍREZ
Director General de Desarrollo Social en Cuauhtémoc.
Representante de la Procuraduría General de Justicia del Distrito Federal.

EDUCADORA ROCÍO ALONSO VARGAS
Directora del Jardín de Niños Francisco Primo de Verdad y Ramos

FAMILIARES Y AMIGOS
DISTINGUIDOS CONCIUDADANOS:

MI FAMILIA Y YO TENEMOS EL HONOR DE ESTAR JUNTO CON USTEDES, UNA VEZ MÁS, PARA RECORDAR A FRANCISCO PRIMO DE VERDAD Y RAMOS, PROTOMÁRTIR DE NUESTRA INDEPENDENCIA, EN SU BICENTÉSIMO PRIMER ANIVERSARIO LUCTUOSO.
NOSOTROS, COMO DESCENDIENTES SUYOS, SENTIMOS UN VERDADERO ORGULLO AL LLEVAR EL APELLIDO, HEREDADO DE UN HÉROE DE SU TALLA.
ASÍ MISMO, DESEAMOS MANIFESTAR NUESTRO PROFUNDO AGRADECIMIENTO A LAS AUTORIDADES DEL GOBIERNO DE LA CIUDAD DE MÉXICO, QUIENES, POR SU AMPLIO CONOCIMIENTO DE NUESTRA HISTORIA, HAN RESCATADO, Y DADO EL LUGAR QUE MERECE, A NUESTRO ILUSTRE ANTEPASADO.
SI EN ESTE MOMENTO, EL OTRORA SÍNDICO DEL AYUNTAMIENTO DE LA CIUDAD DE MÉXICO, NOS PREGUNTARA:
¿QUE HA SUCEDIDO EN ESTE PAÍS A LO LARGO DE LOS DOS SIGLOS TRANSCURRIDOS DESDE MI POLÉMICO FALLECIMIENTO?
RESPONDERÍAMOS QUE, DURANTE EL SIGLO XIX, MILES DE MEXICANOS LUCHARON, Y MUCHOS MURIERON, POR CONSOLIDAR LOS IDEALES Y CONSUMAR LOS DERECHOS INDEPENDENTISTAS INSPIRADOS POR USTED, Y GENERACIONES POSTERIORES, ENCABEZADAS POR EL BENEMÉRITO DE LAS AMÉRICAS DON BENITO JUAREZ, LOGRARON LAS LEYES DE REFORMA,
Y QUE EN LOS ALBORES DEL SIGLO XX, MEDIANTE CRUENTAS LUCHAS INTESTINAS, SE LOGRÓ CONSUMAR UNA REVOLUCIÓN POLÍTICA QUE, DURANTE DÉCADAS, REIVINDICÓ ALGUNAS DE LAS MÁS APREMIANTES DEMANDAS CAMPESINAS, OBRERAS Y POPULARES.
MUCHOS FUERON LOS LOGROS DE NUESTRO PAÍS, GRACIAS A CAUDILLOS Y HÉROES, QUE COMO USTED, INSPIRARON AL PUEBLO DE MÉXICO, PERO TAMBIÉN LE RESPONDERÍAMOS QUE, TRISTEMENTE, A LO LARGO DEL ÚLTIMO CUARTO DEL SIGLO XX, Y HASTA HOY QUE NOS REUNIMOS PARA RECORDARLO, HAN ACCEDIDO AL PODER ACTORES POLÍTICOS Y GRUPOS, QUE:
•NOS HAN HECHO PERDER LA IDENTIDAD NACIONAL,
•QUE SE HAN OLVIDADO DEL AGRO, PROPICIANDO UNA MIGRACIÓN HACIA EL PAÍS VECINO DEL NORTE, NUNCA ANTES VISTA,
•QUE HAN SOLAPADO LA DEVASTACIÓN DE NUESTRAS SELVAS,
•QUE HAN PERMITIDO LA PESCA INDISCRIMINADA EN NUESTROS MARES Y RÍOS,
•FACTORES TODOS QUE HAN PAUPERIZADO A NUESTRO PAÍS, ELEVANDO EL NÚMERO DE POBRES A CIFRAS INSULTANTES PARA QUIENES EN ÉL HABITAMOS.

Y QUÉ DECIRLE AL PATRICIO ACERCA DE LA EDUCACIÓN, DE LA CIENCIA Y TECNOLOGÍA, DE LAS ARTES, Y DE LA JUSTICIA; ABANDONADAS TODAS AL CRITERIO DE PERSONAS, EN SU MAYORÍA, CARENTES DE CULTURA, SIN CONCIENCIA SOCIAL E IGNORANTES DE NUESTRA HISTORIA, DE LA CUAL LOS ERRORES, LAS INJUSTICIAS Y LA DESIGUALDAD PARECIERAN AGLUTINARSE EN UNA DIALÉCTICA SIN FIN.
VEMOS CON TRISTEZA QUE ESTE MÉXICO, DEL CUAL RENDIMOS A USTED CUENTA, ANTES DE SU PRIMER BICENTENARIO COMO PAÍS LIBRE Y SOBERANO, ESTÁ CADA DÍA, MÁS DISTANTE DE LA PATRIA QUE NUESTROS HÉROES SOÑARON HEREDARNOS.

MUCHAS GRACIAS.

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