ORGULHO DAS RAÍZES

NIÑOS TRIQUIS

Sempre que tive oportunidade tentei manifestar o orgulho que sinto das minhas raízes. As comunidades indígenas mexicanas foram de fato uma grande motivação para minha escrita, ao ponto de lhes dedicar pelo menos três ou quatro capítulos do meu livro “A Versão dos Vencidos: Uma Ótica Sobre a História do México”, onde destaco sua intensa participação na vida nacional, seus valores e sua luta pela sobrevivência, mas o que de fato sempre me impressionou, além da têmpera herdada dos guerreiros aztecas e da sabedoria e a ponderação do povo maya, foi o seu conceito de nacionalidade e sua pureza de espírito.
A notícia de que as crianças “triquis” (comunidade indígena das montanhas do estado de Oaxaca, no sul do País), descalços, como costumam andar no seio da sua comunidade, teriam ganhado as sete partidas que disputaram no Quarto Festival Internacional de Basquete Infantil (minibasquete) realizado na cidade de Córdoba, Argentina, não me impressionou tanto quanto as condições em que veio a esplendorosa vitória.
Quando vi a fotografia das crianças em plena luta esportiva, evidenciando sua acentuada desvantagem física com relação ao resto dos competidores e soube das carências em geral desta pequena comunidade, cheguei a mais pura emoção por perceber a enorme diferença que faz a determinação e o trabalho para se atingirem os objetivos na vida.
Estes pequenos gigantes (como pode ser apreciado na fotografia ilustrativa) evidenciando sua condição de pobreza ao nem sequer conseguir comprar os tênis, aparentemente indispensáveis à prática do esporte, bateram seus oponentes argentinos por placares verdadeiramente inacreditáveis para este tipo de competição, como nos explica seu treinador Sérgio Zúñiga:
Conseguiram 86 -3 contra os Celestes; 22-6 contra o time da Universidade de Córdoba; marcaram 72-16 na partida contra o time da Central; 82-18 no Hindú; 44-12 contra os Monteéis e 40-16 frente ao Regatas de Mendoza.
A comissão Nacional Argentina do Esporte acabou denominando-os como “Los Gigantes Descalzos de la Montaña”.
Cabe destacar que para esta edição do torneio participaram 54 times procedentes das diversas províncias do País anfitrião, além dos times nacionais da Bolívia, do Brasil, do Chile, do Uruguay e da Venezuela, permitindo a participação de mais de 800 crianças entre os dias 11 e 14 do passado mês de outubro.
Para se ter uma ideia da popularidade atingida por este evento esportivo (iniciado em 2010 no Equador e tendo passado pela cidade de De La Vega na República Dominicana) desta vez, participaram delegações de 20 províncias da República Dominicana e de Países como o México, Guatemala e Equador.
Cabe ainda ressaltar as políticas públicas aplicadas à comunidade indígena dos TRIQUIS e que a partir de 2009 (inicialmente com 500 crianças) geraram em pouco tempo (4 anos), a mentalidade de campeões em 2,500 crianças que recebem da “Academia de Baloncesto Indígena de México” aprendizagem psicológica (entre outros, cursos de liderança e “risoterapia”) com a única condição de frequentar as escolas municipais com média mínima de 8,5, sem a qual não lhes é permitido treinar nem participar dos jogos oficiais. No Brasil, estas políticas públicas canalizadas em geral por ONGs especializadas, vem gerando também resultados surpreendentes, notadamente nas comunidades de baixa renda.
Ainda com a emoção (e profunda admiração) à flor da pele, rendo homenagem a estas crianças (e a seus professores e treinadores), donos eternos do Território Nacional, à sua luta incansável pela superação física e espiritual, à sua coragem, ao seu valor em combate e à sua seriedade e integridade inquestionáveis.
HB

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