Arquivo do mês: outubro 2012

02 DE NOVEMBRO

CATRINA MODERNA 02Morro impertinente em dia de mortos,
não por vontade própria.
Sacanagem, covardia,
punhalada trapeira, num só dia.

Renasço na contramão no mesmo instante,
imortal,ciente,
consciente e,
ainda incompetente.

Outrossim, fui eliminado,
por ódio ou por amor, fui fulminado.
Fui covarde, mentiroso, por amor descontrolado,
por tesão, incriminado.

Morro infeliz e sem vontade,
vivo e amo viver, em que pese a majestade.
Não existe morte, Ele diz.  Viverás para sempre e com verdade.
Terás sempre a luz, logo após a tempestade.

Foi num fatídico dia, não te cases, não te embarques,
nem sequer de casa te afastes,
eu sabia, era dia de ficar na cama,
tentando evitar o drama.

HB

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DEUSES

Somos o que comemos e o que pensamos,
num mundo de vibrações.
Somos o que cultuamos e perseguimos,
as reflexões e as obsessões.

Somos promessas e até intenções,
as tristes desilusões.
Somos poetas, até laureados,
as flores e as decepções.
Somos a fome, somos os cantos
e os desencantos.

O pranto e até os amores,
as naves do desvario.
Somos filhos, somos pais,
conscientes e reluzentes,
corações valentes,
somos lixo, somos deuses.

HB

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ESTOY METIDO EN POLÍTICA

Desta vez a nossa HOMENAGEM vai para JAIME SABINES GUTIERREZ (1926-1999), querido e respeitado poeta e político mexicano, capaz de rir de si mesmo, além de expor através da sua poesia a vaidade e a futilidade da política que convicto praticava.

Estoy metido en política otra vez.
Sé que no sirvo para nada, pero me utilizan.
Y me exhiben
“Poeta, de la familia mariposa-circense,
atravesado por un alfiler, vitrina 5”.
(Voy, con ustedes, a verme)

Jaime Sabines

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DESEQUILIBRIOS MEXICANOS

Valores comparativos sobre o “SMM” (Salário Mínimo Mensal) em dólares, entre alguns países do Merco-Sul e o México: (*)

Argentina, us$ 620.00;
BRASIL, 388.00,
Venezuela, 360.00;
Chile, 360.00
Uruguay, 350.00;
MÉXICO, 136.00;

continuidade

(*) Dados básicos de outubro de 2012.

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PLEONASMO

Emil passou a vida trabalhando naquelas minas de carvão sem saber ao certo o que isto significava, como seu pai e seu avô. Achava que a resignação era o comportamento a seguir e apreendeu no seio da família que gente honesta vive do produto do seu trabalho.
Com o tempo não mais conseguia ler, suas pernas não mais lhe obedeciam, a coluna rangia em sons apagados, mas, internamente estridentes e a angústia causada pela falta de ar não lhe permitia o sono tranquilo.
– Meu maior medo é morrer do mesmo modo que meu pai, praticamente asfixiado, com os pulmões petrificados aos 39 anos de idade, dizia Emil.
Mas não se queixava, talvez também como aprendizado da família. Sabia-se um bom trabalhador e cumpria suas tarefas de forma exemplar, como quase todos os moradores da vila também empregados naquela mina. Rejubilava-se com a expectativa do repouso merecido e se aposentou após uma vida de trabalho esgotante, mas na certeza do gozo de uma velhice junto aos netos.
Sua fé era cega e recorria sistematicamente à vontade divina que tudo pode.
Sua infância, monótona e sem luz teria sido aparentemente boa, não apenas para aquela família, mas para uma comunidade que estava parada no tempo desde a abertura da mina. As lembranças de Emil pareciam poéticas, mas por incrível que possa parecer eram absolutamente reais e poderiam ser sintetizadas numa sinfonia invernal em preto e branco.
Cresceu respirando aquela poeira de carvão que tudo penetrava, que tudo pintava, colorindo a paisagem de preto, num “dégradé” triste e cinzento, por vezes macabro. O único tom brilhante que aparentemente alegrava os corações era o branco da neve lavando os telhados do vilarejo para lembrar que o mundo era de fato colorido.
– Casei e me tornei pai numa sequência inevitável, mecanicamente repetia as rotinas dos meus antepassados sem opção nem perspectiva. Dia após dia, nas madrugadas escuras e gélidas, descia as centenas de metros que me separavam das trevas naquela gaiola de ferro barulhenta e assustadora, lembrava Emil.
Aos sábados, já extenuado pelo acúmulo do trabalho da semana, experimentava a felicidade ao sair daquele poço quente e fedorento. A luz, no zênite, também cinza, prenunciava o fim daquela trajetória eterna da gaiola do medo que estalava, levantando faíscas ao contato com os trilhos que a mantinham no prumo.
O ar frio e úmido do fim de tarde era a maior recompensa do dia a dia.
Os domingos de manhã eram dedicados a Deus, apenas para agradecer pela existência. Nada pediam, mas não por humildade, apenas porque de nada precisavam, ou na verdade nem sequer suspeitavam que pudesse existir alguma coisa necessária para tornar a vida mais satisfatória.
Nas tardes de domingo, quase letárgicas, conversavam. A mãe do Emil passava as roupas que seriam usadas no dia seguinte, tarefa que quando casou, passou para a Juliette, aquela moça branco gelo que parecia ter saído da paisagem e que teve o mérito de ter conquistado seu coração. Interagiam, desfrutando do calor do carvão que alimentava o ferro de passar, na longa expectativa do retorno ao trabalho na madrugada da segunda.
– Nunca vi meu pai sorrir, acho que não sentia necessidade. Trabalhava muito, ganhava pouco, mas era um dinheiro certo, nunca nada nos faltou.
– Nunca soube a data do meu nascimento, me disseram que foi no mesmo ano em que foi inventado o telefone; de qualquer modo nunca tivemos um.
A Região do Pas-de Calais, ao norte da França só conheceu o telefone em 1885, quando o presidente Grévy visitou o vilarejo para anunciar a nova e mágica geringonça.
– Emile, dizia minha Juliette quase suplicando, vamos cair fora daqui, as crianças não merecem a mesma vida que levamos, vamos aproveitar a construção daquela torre maluca para arranjar um emprego em Paris. Deus não há de faltar.
– Sei não, Juju, tenho medo, eu soube que o poder central não presta, é corrupto.
-O poder?, corrupto? Perguntou Juliette.
E sem esperar a resposta, sentenciou:
– ceci pour moi c’est du pleonasme.
HB

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DEMOCRACIA EN EL MERCO-SUR?

El “Imperialismo de Dilma y Lula”.
(Artículo publicado en el vespertino digital del periódico “O Globo” – Río de Janeiro, Brasil, de la autoría del periodista alagoano José Casado el 07/10/2012).

ChavesSegún las estimaciones más recientes, recibidas por la Presidente Dilma Rousseff por parte de su equipo de trabajo, encargado de observar el pleito venezolano, Hugo Chávez debe vencer en las elecciones presidenciales de este domingo.
Entre los miembros de este grupo destaca el publicista João Santana. Él se encuentra hace ocho meses al servicio de la campaña para la reelección de Chávez, por intervención directa del ex-presidente Lula, con el respaldo de Dilma.
El análisis de las encuestas recibidas por el Palacio de Planalto hasta el viernes pasado, depuradas por Itamaraty (Secretaria de Relaciones Exteriores del Brasil), en confrontación con datos surgidos de encuestas realizadas por los gobiernos de los Estados Unidos, Colombia y España, resultan coincidentes con la prevista victoria del chavismo, con un margen de diferencia de votos del 8% en la hipótesis más optimista y de 1.5% en la más pesimista.
En conjunto, dichas encuestas se refieren más a los intereses y a los deseos del gobierno brasileño en esta elección, que a la realidad  venezolana propiamente dicha. Dilma mantiene con Chávez un tipo de relación en la que prevalece la simpatia mutua, regulada por la equidistancia. Ella canceló, por ejemplo, las reuniones trimestrales de “intercambio gubernamental”, por constatar su inutilidad.
En esencia, ella se comporta como gerente y, obedientemente, mantuvo las directrices de intervencionismo directo de Lula en la política interna de un país vecino, actitud que, paradójicamente, ella y Lula proclaman repudiar cuando critican los gestos imperialistas e injerencistas de los Estados Unidos en América Latina.
Dilma intervino también en el derrocamiento del presidente del Paraguay. Durante su mandato presidencial, Lula también intervino en las elecciones de Argentina, del Perú y de Bolivia.
Distante del Planalto, pero omnipresente en las decisiones presidenciales, Lula hizo lo que Dilma no podía haber hecho por Chávez, apareció personalmente como parte de la propaganda chavista en comerciales televisivos ligados a ella. Envió a Caracas publicistas y activistas del Partido de los Trabajadores (PT), avaló los comicios del presidente–candidato frente a las cámaras en el Planalto y en los últimos días, ya en la recta final de la campaña, actuó para inhibir una recepción en Brasilia ofrecida al candidato adversario, Henrique Capriles.
Así, este domingo, el gobierno del Brasil, se destaca entre los que apoyan de manera incondicional un tercer mandato de Chávez, quien en caso de ganar, tendrá la perspectiva de 20 años en el poder.
El problema es que esta opción política con relación a Venezuela está fundamentada en preferencias personales y partidistas, así como en intereses económicos sectoriales.
Esta opción deja en claro que el gobierno de Dilma decidió despreciar la virtud de la prudencia, optando por ignorar “Su exelencia, el hecho”- como diría Ulysses Guimarães, muerto hace 20 años (Destacado político brasileño líder de la oposición durante los regímenes militares de excepción).
En Venezuela, este domingo “el hecho” y lo novedoso, es la proeza política realizada por Henrique Capriles, 40 años, abogado de profesión y ex-Gobernador de la Región Metropolitana de Caracas, junto con Ramón Guillermo Aveledo, de 62 años, quien llegó a presidir la Cámara de Diputados y fue influyente Secretario del ex-Presidente Luis Herrera Campíns (1979-1984).
Juntos reconstruyeron la oposición venezolana, le dieron unidad y salieron a luchar por votos de casa en casa, con el ideal de reconstrucción de la tambaleante economía, con más empleos y seguridad, reforma de la justicia y rescate de la división de los poderes republicanos.
Capriles en el estrado, con Aveledo en los bastidores, ofrecía esperanza, mientras que Chávez ofrecía más del miedo – la continuidad de su guerra interna por la implantación del “socialismo del siglo XXI”, o lo que esto pueda significar.
Ambos cambiaron a Venezuela al hacer de la oposición una alternativa viable de poder, lo que es visible hasta en los análisis producidos en el Palacio de Planalto.
Si Capriles pierde hoy, mañana estará en plena calle, en otra campaña, ahora como el candidato más probable a la sucesión del convaleciente Chávez.
Y el intervencionismo externo del “Imperialismo Brasileño” podrá convertirse, en agenda de una oposición fortalecida, como Dilma, Lula y Chávez, jamás imaginaron.

Río de Janeiro, 07 de octubre del 2012
José Casado

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A FLOR E O SONHO

Flor de Cactus  105Semeei por longo tempo,
à procura de ti, do teu perfume.
Reguei com fé (e lágrimas furtivas),
quando, no auge da florada, cego de paixão,
quis subjugar tua alma deflorada.

Ainda extasiado com teu aroma,
te segurei em quanto pude,
sem sentir que murchavas lentamente.
Estoico e triste presenciei tua morte inexorável,
sabendo ter matado a flor e meu sonho, para sempre.
HB

Flor de Cactus 108

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ADEUS

Apresso-me em responder, já são as seis,
a vida chama e como tal, se apaga.
Compreendo a angústia que essa chama acesa lhe provoca,
sinto-a também e com ela, me apago lentamente.

Qualquer coisa faria para lhe poupar dessa agonia,
martiriza-me a culpa que se esconde na (in)consciência.
Daria-me por inteiro se pudesse,
para enxugar (com meus beijos) apenas uma das suas lágrimas.

Parece tarde para arrependimentos, mas
uma declaração de amor (e uma poesia), estava lhe devendo.
De fato, não mais poderíamos viver no mesmo teto,
mas a vida daria para passar mais um instante do seu lado.

Isso é amor, eu lhe garanto, me torna piegas e poeta.
Nem sempre é compatível e muito menos coincidente,
mas é fervente, desafia a mais coerente das criaturas.
Será sua resposta o oráculo divino que esperava?
para no fim, calado, morrer de tristeza (e incompetência).
HB

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ORGULLO MEXICANO EN RIO DE JANEIRO

La mexicana Alondra de la Parra una Maestra “Rockstar’ de 32 años, dirige concierto de la OSB (Orquesta Sinfónica Brasileña) en el Teatro Municipal.
(Noticia publicada por el periódico “O Globo” el sábado 06 de octubre del 2012).

La maestra Alondra de la Parra es una “rockstar” de la música clásica.
A sus 32 años, postura vibrante en el escenario y rasgos de modelo – su pelo largo castaño, no refleja los cortes masculinos adoptados por la mayoría de las regentes de orquesta – le confieren el estatus de “sensación” em su País.
Hoy, a las 16:00 Hrs. el publico carioca tendrá la posibilidad de constatar su regencia, en concierto al frente de la Orquesta Sinfónica Brasileña (OSB) en el Teatro Municipal.
Una de las conquistas de Alondra fue la creación de la “Philarmonic Orchestra of the Americas” en 2004. El grupo reúne jóvenes talentos de las Américas con enfoque en la divulgación de la música Latino-americana.
Talento, actitud y carisma hicieron que ella fuera nombrada “Embajadora Cultural de México” y que la revista “Poder” la incluyese en una relación de las 20 personas más influyentes de su País com menos de 40 años. La Directora fué la primera mujer mexicana a conducir una orquesta sinfónica en la ciudad de Nueva York.
El programa de hoy incluye una de las obras más importantes del compositor húngaro Bela Bartok, “Música para cuerdas, percusión y clavecín”. En la segunda parte del programa, la Orquesta deberá interpretar la “Sinfonía No. 4” de Brahms.

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TENDA DOS MILAGRES

Desta vez, através do meu conto “Tenda dos Milagres”, a HOMENAGEM vai para meu amigo de infância Jesús Hernandez Torres.
O inesquecível vencedor do concurso de declamação do Colégio México, no significativo 1959, em que concluimos o nosso curso ginasial.
A poesia recitada por Chuy Hernandez na ocasião, “O Brindis del Bohemio”, foi a fonte inspiradora deste conto em que tentei adaptar o ambiente do romantico século XIX, aos folclóricos botequins cariocas, verdadeiros centros inspiradores dos compositores e poetas populares brasileiros:
Chuy Aquele bar de subúrbio era o próprio pé sujo; esgoto a céu aberto correndo pela rua, ovos duros coloridos e moelas gordurosas o caracterizavam como um legítimo bar carioca, digno de São Jorge e de Iemanjá. Todavia, alguma coisa o tornava diferente, algum atrativo fazia com que a frequência fosse mais intensa do que a dos congêneres do bairro. Pelo menos é o que poderia se supor pela quantidade de desocupados que atraia de dia e de noite. O dominó e o carteado corriam soltos nas mesinhas improvisadas na calçada e a televisão, afixada numa prateleira de canto, era ligada de quando em vez, para assistir aos jogos do Vascão.
Não era então seu aspecto físico que, pouco ou nada diferia das centenas de botequins de qualquer bairro. Nem sequer o nome “Nossa Senhora de Fátima”, fazia qualquer diferença.
Para aqueles que nunca frequentaram o bar do português seria impossível identificar os verdadeiros atrativos da espelunca; mesmo para Dom Joaquim, o dono, era um mistério. Ele sempre achou que o segredo do sucesso, o que realmente mantinha seu estabelecimento sempre cheio, eram os bolinhos de bacalhau da sua patroa.
– É verdade que “os repentistas” de vez em quando também são um atrativo, cada um é pior do que o outro, dizia, mas acho que sem eles a vida perderia seu encanto.
Seu Crispino, esperto, fanfarrão e relapso, trajando sempre preto, era um verdadeiro ator, parecia ter saído de uma comédia francesa do século XVI; o professor Anísio, nordestino do interior das Alagoas, confortavelmente instalado nas suas alpargatas tipo São Francisco e seu indefectível chapéu de couro, regalava seus ouvintes com as escabrosas histórias do bando de Lampião e as miraculosas andanças do padím pade Cícero pelo sertão da Paraiba; O Fagundes, poeta inveterado e eterno galã, sem idade aparente e aparentemente sem vergonha, alegrava as manhãs de domingo e assim por diante, o “Nossa Senhora de Fátima” tinha-se tornado de fato um verdadeiro “point” de intelectuais e merecia qualquer sacrifício, inclusive seu eventual mau cheiro ou desconforto.
Os tais dos “repentistas” como chamados por Dom Joaquim, eram na verdade os filósofos da vida que nos seus plantões no bar tudo questionavam, colocando no crivo da razão, tanto a economia, como a política (notadamente a ditadura dos malfadados militares que conseguiram, como ele costumava dizer, atrasar este país em mais de duas décadas) até a necessidade da aplicação imediata da lei da ficha limpa e a especulação sobre os rumos do julgamento do mensalão.
– Evidente que o Lula sabia de tudo, discursava o jovem “Rui Barbosa” encarapitado numa cadeira desbotada e enferrujada, assim apelidado por ser um atuante advogado das causas impossíveis.
Ninguém se lembrava de como nem porque, mas os temas abordados naquele dia quente de inverno eram relativos aos milagres e aos efeitos da passagem do tempo sobre a humanidade. As intervenções dos presentes variavam entre “a vida é o próprio milagre”, “o tempo é inexorável” e “a história se fez minuto a minuto ao longo dos séculos”.
Como sempre, qualquer conclusão seria impossível, mas que prazer incomensurável ouvir aquele grupo brilhante, cujo raciocínio e eloquência eram inversamente proporcionais à quantidade de doses absorvidas ao longo dos discursos.
Dom Joaquim fazia a festa porque nestes dias em que os repentistas decidiam questionar o mundo, ele faturava o dobro. Nem sequer perguntava se queriam mais uma cerveja, ou uma sardinha portuguesa frita na hora, apenas gritava para Dona Marina: sai mais uma, minha flor de Trás-os-Montes.
Seu Crispino decidiu futucar mais fundo e disse na sua vez:
– Vocês são muito ingênuos companheiros, milagres, como entendidos pelo povo, qualquer um faz, o problema é que desconhecendo a origem do fato, a nossa ignorância os torna milagres de imediato.
– Quer ver, dizia Crispino, jogando a capa preta sobre o ombro esquerdo; para mim, milagre é aquele em que efetivamente são contrariadas as leis da física; por exemplo, uma mulher dar à luz um leão. Aí não tem truque, raciocinava perante a pequena plateia embasbacada, isso simplesmente, seria um milagre.
– O xente, retrucou o professor Anisio, meio invocado por achar que o comentário ia de encontro aos claros milagres do padim Cícero,
– E a minha tia Raimunda que foi curada de câncer terminal? Vociferou, sem dúvida alguma a respeito do milagre alcançado pela tia.
O preclaro Fagundes, que aproveitava qualquer oportunidade para recitar seus versos “del alma”, interveio cambaleante, com um improviso sentido:
– Vejo no seu rosto companheiros, as lágrimas e os risos, origem do prazer e dos feitiços.
De olhos fechados, tirando forças do seu passado, continuou:
– Aproveito este momento para brindar,…………..e após uma longa pausa em que continuava a procurar o fôlego que lhe faltava, desembuchou de supetão:
– Brindo pela mulher, mas não por aquela na que achais consolo na tristeza, meus irmãos, não por naquela que nós oferece sua artificial beleza e seu riso perfumado.
Neste momento, já com a atenção de todos os presentes, aspirou fundo e tentando superar a dificuldade de uma língua cada vez mais enrolada, emendou:
Brindo pela mulher, mas por aquela que me acolheu em seus braços,
por aquela que me aninhou com seus abraços,
por aquela que me deu em pedaços seu coração inteiro.
Brindo por ela companheiros, a que deu a luz este leão, já sem garras e sem juba, perpetuando durante todos os minutos da minha vida o verdadeiro milagre da existência.
Sob palmas, vaias e assobios da improvisada plateia, Fagundes deixou o corpo e o copo caírem sem sentir, tinha acabado de provar que a vã filosofia, desde que sentida, podia ser criada em qualquer lugar, em qualquer botequim.
HB
Ideia poética inspirada na obra “El Brindis del Bohemio”
do poeta romântico mexicano Guillermo Aguirre y Fierro (1887-1949).
O titulo deste conto é homônimo (plagiado) daquele dado por Jorge Amado a seu romance de 1969.

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