Arquivo do mês: maio 2013

CÓDICE DE YANHUITLÁN

Códice de Yanhuitlán III Desta vez, prezados leitores e amigos latino-americanos, compareço através do meu texto (e peço a sua atenção) para transmitir uma informação que certamente fará a felicidade de historiadores, antropólogos, sociólogos e estudiosos em geral. Sou portador (extraoficial) de uma grande noticia que promete agitar a história do nosso continente. Todavia, à diferença das recentes pesquisas, ainda em fase de fundamentação comprovatória, da presença dos mayas no norte do Estado da Geórgia (USA), trata-se de uma noticia real, hoje consolidada pelo esforço (e as negociações) de anos a fio, feitas pelo professor Francisco Toledo, da Dra. Maria Isabel Grañén Porrúa, dos Drs. Manuel Herman e Michael Oudijk, assim como de Salvador Flores e da Dra. Ángeles Romero Frizzi.
Trata-se meus amigos, da compra de um documento elaborado por mãos indígenas, datado (circa) de 1550 e que segundo os estudiosos é uma jóia rara que combina a técnica indígena com a européia. Estamos falando de uma parte significativa e insubstituível do CÓDICE DE YANHUITLÁN, contendo principalmente pinturas com anotações na língua mixteca, expressa com caracteres latinos, além de glifos relativos ao calendário mixteco.Códice de Yanhuitlán II Há seis anos aproximadamente, em circunstâncias não esclarecidas, o Dr. Sebastián van Doesburg e o professor Michael Swanton, tomaram conhecimento de que um fragmento do CÓDICE DE YANHUITLÁN se encontrava na cidade do México, em mãos de particulares que desejavam vende-lo. Fato este que, como leigo no assunto, achei muito estranho porque sempre pensei que este tipo de patrimônio histórico-cultural, (sem importar quem, ao longo do tempo, pudesse ter se apropriado dele) estaria protegido por legislação específica e que inclusive, qualquer tentativa de comercialização seria um ato criminoso sujeito as penas previstas em lei. Mas mesmo assim, a Dra. Maria Isabel Granhén Porrua, Presidenta da Fundação Alfredo Harp Helú Oaxaca (FAHHO) e seu grupo de trabalho, com recursos da Fundação, conseguiram adquirir o documento, com o propósito de que o CÓDICE pudesse voltar ao Estado de Oaxaca a fim de restaura-lo e expô-lo ao conhecimento popular, seja através de exposições ou de reproduções iconográficas.
Para os menos familiarizados com esta etnia, esclarecemos tratar-se de cultura que floresceu no Pré-Clássico Médio Mesoamericano (Ss. XV a II A.C.) declinando vertiginosamente, até desaparecer completamente nos primeiras décadas da colonização espanhola, na segunda metade do século XVI. Geograficamente, esteve situada na região montanhosa, ao noroeste do estreito de “Tehuantepec”, justamente conhecida como a “Região da Mixteca”, ocupando parte dos estados mexicanos de Puebla, Oaxaca e Guerrero.
Ainda em 2012, na nossa publicação: ”A Versão dos Vencidos: Uma ótica sobre a história do México”, no capítulo: “O Sorriso da Fortuna“ (pág. 198) citávamos o Sr. Harp Helú (primo do titular, até muito recentemente, da maior fortuna do mundo, Sr. Carlos Slim, inclusive como concorrentes comerciais na área da telefonia) criticando-o, como integrante do reduzido núcleo de bilionários mexicanos, pela sua corresponsabilidade na manutenção da atual ditadura, no poder há 90 anos e da qual tem sido beneficiário direto, não apenas através das informações privilegiadas a que tem acesso, mas das negociatas favorecidas pelo próprio Poder Público, frequentemente sem a cobrança dos impostos correspondentes. Todavia, mencionamos também sua qualidade de filantropo da família, dedicando parte da sua fortuna ao fomento da arte e da cultura nacionais, através da sua fundação, mecenas na aquisição do importante CÓDICE a que ora nos referimos.
Códice de YanhuitlánA Fundação do Sr. Alfredo apresentou sua mais recente aquisição, o fragmento do CÓDICE de YANHUITLÀN, documento até hoje desaparecido, na Capela do Rosário, localizada dentro do ex-Covento de “San Pablo” no estado de Oaxaca (sitio arqueológico, por conter os vestígios da primeira ocupação humana no Estado de Oaxaca, concedido pelos espanhóis para a ordem dos Domínicos em 1529 e hoje administrado pela Fundação Cultural do Sr. Harp Helú).
Este documento pictográfico plasma em suas folhas os fatos ocorridos nas décadas posteriores à conquista. É o testemunho de cenas de conflito ocorridas durante os encontros entre nobres mixtecos e os frades domínicos ou os representantes das autoridades espanholas. Entre as personagens retratadas no CÓDICE (e já identificadas) estão: Francisco de las Casas (representante domínico em Yanhuitlán em 1550) e Gabriel de Guzmão, Cacique já catequizado de Yanhuitlán desde 1558.
A história mostra que Dom Agustín Carlos Pimentel y Guzmán teve em seu poder o CÓDICE e foi quem o dividiu em três partes, provavelmente no ano de 1717. Atualmente, um dos fragmentos (12 folhas) se encontra na “Biblioteca Histórica José Maria Lafrágua” da “Benemérita Universidad Autónoma de Puebla” (BUAP). Outro dos fragmentos do CÓDICE (4 folhas) está aos cuidados do “Archivo General de la Nación” (AGN) e o último, que até seis anos atrás imaginava-se perdido, encontra-se hoje no Estado de Oaxaca, sob a responsabilidade da FAHHO.
Aproveitamos para parabenizar todos os envolvidos na aquisição deste fragmento do valiosíssimo Códice, não em função do esforço para reunir os dinheiros pagos pela sua aquisição, mas acima de tudo pelo valor histórico que esta aquisição representa para o México, para Latino América e, porque não dizer, para a cultura do mundo.
Satisfeitos também ficamos ao reparar que, pelo menos parte da fortuna do Sr. Alfredo Harp Helú que, sem dúvida alguma veio do povo mexicano, a ele retorne da forma mais nobre possível, ou seja, para seu desenvolvimento cultural.
Concluindo a divulgação desta noticia alvissareira, não poderia deixar de fazer referência ao deplorável comércio ilegal do patrimônio histórico–cultural latino-americano, (ainda presente na vida das nações ao sul do Rio Bravo) e que, ao ser adquirido, reconhecendo-lhe um valor comercial, acabamos legitimando o absurdo da sua posse em mãos de particulares e com frequência de instituições (aparentemente sérias) de diversos países, cuja capacidade financeira consegue comprar algumas autoridades, (cada vez em maior número, capazes de vender a própria mãe por trocados). Neste caso podemos citar (por ser do conhecimento público) a Tulane University (New Orleans / LA / USA) que orgulhosa da sua aquisição, mostra para quem quiser ver alguns originais dos Códices Mayas, que nunca em qualquer hipótese poderiam ter deixado o País e que mesmo, tendo saído, teriam que ser vigorosamente requisitados e repatriados pelas autoridades mexicanas, desconhecendo qualquer tipo de transação comercial que por ventura pudesse legitimar a sua aquisição. Confesso desconhecer as leis existentes neste sentido, mas a minha postura, apenas reflete o sentimento de muitos mexicanos e latino-americanos, indignados de forma legítima, pela verdadeira apropriação indébita do seu patrimônio histórico e cultural, perpetuada ao longo dos anos.

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DECLARAÇÃO DE QUASE NATAL

Hoje vejo a poesia como um refúgio, um esconderijo quase uterino, onde possa me albergar, onde possa encontrar a plenitude da maturidade conquistada, onde possa florescer a paciência, a tolerância e a plenitude dos sentimentos.  Tal vez seja uma forma egoísta de se manifestar, mas a pureza das intenções  procuram sempre um leitor, alguém que se  identifique com ela, que possa se abrigar no mesmo refúgio, que sinta a proteção deste lar virtual que faz referência ao corpo, mas que é naturalmente espiritual, quando de amor se fala. Quando se tem uma declaração a fazer, a idade não conta, pelo contrário, nos aproxima da AM Vaso de Flores ACIE 1992 65x50cm R$ 500,00verdade, da ilusão e em última instância do amor incondicional.
Assim, apresento a seguir, a minha “DECLARAÇÃO DE QUASE NATAL” que não difere de tantas outras declarações, a não ser por ter sido feita com amor às vésperas do Natal:

DECLARAÇÃO DE QUASE NATAL
Viajamos juntos num mar desconhecido,
num oceano de paixões.
Amo-te sem restrições em praias distantes,
com amor (in)contido pela idade.

Minha capacidade de amar ainda me surpreende,
de me entregar, como se criança fosse.
Inocência a flor da pele, voltando em quanto há tempo,
sem olhar para trás, sem saber o que me espera.

Amor (in)contido deveras surpreendente,
aproveito a bênção da insônia para fazer o meu verso.
Sendo a madrugada testemunha de fatos impensados,
de jogos safados de meninos.

Não são mares nunca dantes navegados,
mas oceanos intranquilos.
Superados apenas pela idade,
aquela que se tem quando meninos.

HB

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ANGELINA JOLIE, HEROINA OU REFÉM DA MEDICINA SELETIVA?

Angelina-Jolie Os fãs de cinema com mais de 50 anos ainda lembramo-nos daquela menininha rebelde e pirracenta, filha do grande ator americano Jon Voight de cujos filmes marcantes muito desfrutamos, entre outros Perdidos na Noite de 1969 (Midnight Cawboy) com Dustin Hoffman e Amargo Pesadelo de 1972 (Deliverance) com Burt Reynolds. Cresceu num relacionamento difícil com o pai, com o qual nunca se entendeu, chamava a atenção se cortando com navalhas e mergulhou no mundo das drogas ao longo da sua adolescência, o que numa analise psicológica simplista, parece-nos dizer: Eu estou aqui, pai, quero atenção. Eu existo. Fato este que não é normal, embora muito comum no mundo em que vivemos.
Após algum tempo, (e algumas muitas cirurgias plásticas) suficiente para que se tornasse uma bela mulher, símbolo sexual do mundo moderno e uma excelente atriz, apareceu de novo para o mundo, ainda chamando a atenção da mídia internacional, ao casar com o ator mais bonito de Hollywood, Brad Pitt, adotando crianças carentes de diferentes nacionalidades, arvorando a bandeira de excelente e dedicada mãe e se engajando em campanhas ambientalistas dignas de encômio. Aparentemente tinha conseguido a atenção de que precisava ao mesmo tempo em que o mundo ganhava na famosa “Mrs. Smith”, uma heroína confiável em quem se espelhar. Na verdade acabou captando até mais atenção do que poderia esperar, foi nomeada embaixatriz da ONU para viajar pelo mundo, mostrando, mesmo rica, famosa e integrante do casal com maior evidência no planeta, o que é humildade e dedicação às mais nobres causas para a melhoria da qualidade de vida da população mundial.
Todavia, na semana passada, fomos surpreendidos com a decisão da Sra. Pitt, de realizar uma dupla mastectomia radical do tipo “preventivo” (ou seja, um recadinho de gênero para botar as barbas de molho, se preparando para o pior) e o faz, não na tranquilidade do lar, como uma decisão de consciência, mas em declaração pública ao New York Times, com todos os esses e erres a que teve direito.
Desta vez, não apenas consegue a atenção do mundo, mas notadamente, dividir as opiniões, entre os que concordam e diferem dos prós e dos contras da sua surpreendente decisão.
Não tenho a menor intenção de fazer uma crítica à decisão de Angelina e muito menos ao comportamento da dedicada atriz e mãe, mas decidi escrever a respeito em função da repercussão dessa atitude (aparentemente heroica, mostrando a coragem e a determinação de um sexo feminino cada vez mais dono de si, mais atuante e decidido a ocupar a qualquer custo, todos os espaços que por ventura ainda precisarem ser conquistados).
Sua declaração feita publicamente (sabedora da sua capacidade formadora de opinião) com a deliberada intenção de encorajar outras mulheres a tomar a mesma decisão, parece no mínimo, insensata, irresponsável, tétrica e execrável. Infelizmente, não podemos deixar de pensar (porque eles mesmos nos mal habituaram) que pudesse tratar-se de publicidade hollywoodiana, dirigida para um novo lançamento cinematográfico, mas em função da seriedade e da profundidade do assunto, não podemos deixar de considerar a influência marcante que já está causando na opinião pública internacional, notadamente entre as mulheres mais jovens, adeptas aos modismos e exemplos (nem sempre exemplares) dos notáveis, tanto no mundo das artes, como do esporte e da moda em geral.
Os avanços da medicina e da tecnologia mostraram que a Angelina de fato é possuidora de um gene (BRCA1), que a predispõe ao câncer de mama e de ovário. Ao parecer, os médicos definiram, com base nos estudos correspondentes, que a atriz teria em algum momento da sua vida, 87% de chances de vir a ter câncer de mama, e 50% de ocorrência da mesma doença nos ovários. Ela própria nos diz que um câncer de ovário teria sido responsável pela morte da sua mãe aos 56 anos, (por ter apresentado a mesma tendência). Para diminuir radicalmente seu risco de vir a ser portadora da doença, Angelina extirpou as duas mamas e botou implantes de silicone no local.
No nosso amadorístico exercício psicológico, parece-nos ouvi-la mais uma vez dizendo: Pai estou aqui de novo, (será que tenho a tendência, aparentemente natural, de me sentir rejeitada? será que o preço para conquistar o teu coração é a mutilação?
Muito embora não possamos exigir desta bela mãe e atriz a perfeição, parece ser esta sua meta, e o que é pior, custe o que custar.
E então perguntamos, será que ela se ama? Será que não consegue se perdoar?
Parece-nos (mesmo com uma fé menor do que um grão de mostarda) que 13% de chances de não ter câncer de mama, são chances de mais para qualquer mortal que pretenda se aferrar a vida. E mesmo que viesse a ser atingida pelo temido flagelo, ocasião esta em que de qualquer forma teria que fazer a mastectomia, resulta assustadora e ilógica a precipitada decisão.
Lembramos aqui, também como um alerta para as jovens brasileiras que os médicos americanos (em geral) agem (como não poderia deixar de ser) conforme as imposições das leis e as exigências da sociedade de consumo cada vez mais radicais na terra do tio Sam. Temerosos de futuras demandas judiciais, os parâmetros e a ética médica não têm mais limites (como foi o patético caso do rei do pop, Michael Jackson, primeiro pela prática ilimitada de operações plásticas, o transformando num verdadeiro monstro, para finalmente mata-lo com o pretexto de acatar a sua vontade).
Do ponto de vista da estatística pura, salta aos olhos que a nossa heroína, mãe exemplar e notável atriz, aos 37 anos de idade (com ou sem mastectomia) têm 50% de chances de morrer de qualquer outra coisa que não seja câncer (isto é, ou morre de câncer, ou não morre de câncer).
O acompanhamento periódico e responsável do funcionamento e do equilíbrio do organismo, seria mais do que suficiente para a prevenção do câncer (mamografia e ressonância magnética anuais), mesmo para quem acha (ou está convencida), de que o diagnóstico elaborado com base em exames apurados de DNA, lhe concedem 87% de possibilidades de contrair a doença.
Provavelmente a nossa heroína não percebeu que tudo se reduz a “chances”, a “possibilidades” e especulações que em última instancia, mesmo sem mamas, nada a livraria de uma leucemia, por exemplo, ou de um câncer de pulmão. Ou será que seu heroísmo a levaria a tirar cada um dos órgãos em duplicata? E se fosse câncer de fígado ou de pâncreas?
Certamente, a senhora Brad Pitt optou pelo que existe de mais invasivo, agressivo e explosivo, na tentativa de se livrar de uma doença que nem sequer tinha-se manifestado, o que a levou de imediato (novamente) as manchetes da imprensa internacional.
Esperamos, pelo menos, que tenha também atingido em pleno o coração a atenção do pai que sempre procurou e que as mulheres brasileiras possam perceber que a mutilação como forma de alcançar notoriedade (e as vezes até o coração dos pais) é um péssimo negocio.

HB

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O CENTENÁRIO DO POETINHA

VINICIUS DE MORAES Embora faltando cinco meses para a efetiva comemoração do centenário do nascimento de Vinicius de Moraes (19 de outubro de 1913) os irmãos do Frei Luiz, através do SOM (Serviço de Orientação Mediúnica) decidiram, em mais um evento cultural SOM-ARTE, prestar homenagem a este grande brasileiro, diplomata, dramaturgo, jornalista, poeta e compositor, conhecido popularmente, inclusive pela sua boêmia e pela fama de ter sido um inveterado conquistador. (Casou-se nove vezes e quando seu parceiro e amigo Tom Jobim, perguntou: Afinal, Vinicius, “quantas vezes você pretende se casar”? Ele respondeu sem titubear: “Quantas forem necessárias, meu caro Tom”).
Assim, orgulhosamente integrante do SOM e admirador e fã incondicional deste Mestre da Poesia, decidi também adiantar a minha homenagem, de forma que este mês, o tradicional mês das noivas e dos pretos velhos, fica dedicado ao poetinha da Gávea, ao poetinha de Ipanema, do Jardim Botânico e de todos os bairros do Rio, não apenas porque ele merece, mas principalmente por ter sido também, responsável pela minha vinda para a cidade maravilhosa.
Provavelmente 1967-68, os LP’s do Vinicius (os hoje procurados vinis) eram tocados na velha vitrola do meu ateliê de arquitetura na cidade do México até agulha perfurar as minhas queridas bolachas importadas, cobiçadas pelos meus colegas e amigos. Eu me empenhava para ganhar uma bolsa de estudos que me descortinaria o Pão de Açúcar, o Cristo Redentor, a praia de Ipanema e principalmente o Carnaval; a arquitetura e o urbanismo viriam depois, a seu devido tempo. Era necessário primeiro, falar a língua do Pelé, da Ellis, do Jorge Bem, da Elza Soares, da Divina Elizete e da esplendorosa Leny Andrade (que contratada para se apresentar no México por uma semana, ficou mais de dois anos fazendo sucesso, dia após dia, no “Señorial” da turística “Zona Rosa” mexicana, junto com o Pery Ribeiro e o Gêmini V). Engraçado que na época nunca me passou pela cabeça que a língua almejada seria a do Fernando Pessoa, a do Eça de Queiróz, a de Guimarães Rosa, a do Carlos Drummond de Andrade, do Machado de Assis e assim por diante. Os sonhos brasileiros daquele estudante de arquitetura mexicano, do alto dos seus 21 anos, eram encharcados de jíbaros redutores de cabeças do alto amazonas, de filmes como “Orfeu de Carnaval”, (a Palma de Ouro de Cannes em 59) de músicas como a insuperável Garota de Ipanema (até hoje a mais tocada no mundo, inclusive e principalmente pela trinca formada pela Astrud Gilberto, o Stan Getz e obviamente o maestro Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, o Tom, amigo e parceiro do Vinicius, o Tomzim querido) e o carnaval e a tradicional “Estação Primeira da Mangueira” (Rios, cachoeiras e cascatas, lindos pássaros e matas que engrandecem a Nação).
Todavia, uma destas bolachas de vinil, me marcou mais do que todas as outras, canalizava minha atenção a ponto de passar as tardes e muitas das minhas noites tentando traduzir as falas do grande poeta. Meu prezado amigo Diego Manrique Acuña foi testemunha e parceiro nesta odisseia que arrebatava nossos sonhos de juventude. Chegamos a planejar uma viagem de carro entre a cidade do México e o Rio de Janeiro, que se tornou absolutamente impensável pelo custo proibitivo de uma jornada de mais de 45 dias ao longo de mais de 25,000 quilômetros de riscos e sobressaltos. O sonho, que parecia uma aventura maior do que as nossas pernas, ficou apenas adiado por algum tempo e em agosto próximo fará 44 anos sem que tivesse (ainda) a necessidade de acordar.
Tratava-se de um disco inesquecível da “Gravadora Elenco”, 33 RPM, ainda mono aural, intitulado: “Vinicius e Caymmi no Zum Zum”, 1967, com o quarteto Em Cy e o conjunto do Oscar Castro Neves. Neste LP, o poeta declama (O Dia da Criação), canta (Broto Maroto, Formosa e outras), fala de amor, (Minha Namorada, se eu fosse solteiro…. com as quatro casaria….se referindo as baianinhas do quarteto Em Cy), fala de saudade (longe do solo pátrio, num sete de setembro, no Porto do Havre, numa noite sem qualquer perspectiva na tristeza dum quarto de hotel que da para toda a solidão do mundo em que, como sempre, nos diz o poeta, “escrevo cartas que nunca mando”); nos fala das iguarias brasileiras que ansiosamente espera comer logo que pisar na Cidade Maravilhosa (tutu com torresminho, galinha ao molho pardo, arroz soltinho e “papos de anjo”, como só a mãe da gente sabe fazer) e do sucesso dos Afro Sambas do Baden em Paris e da garota de Ipanema nos EUA. Outro sonho.
Assim, meu desejo de participar da homenagem ao Grande Vinicius, prestada pelo meu grupo do SOM-ARTE foi imediata, mas numa constatação obvia (também imediata) lembrei que não sei cantar, que longe estou de compor alguma música que preste, que mal consigo tocar a campainha lá de casa, muito menos um instrumento, que não danço e nem sequer sou capaz (com as minhas palhaçadas) de apresentar algum número de malabarismo ou prestidigitação.
Restou-me apenas a escrita, aquela minha vocação tardia.
Quem sabe fazer uma poesia para o homenageado da vez seria a minha contribuição para comemorar seu centenário de nascimento, uma poesia em que pudesse transmitir a minha admiração pelo grande Marcus Vinicius da Cruz e Mello Moraes (1913-1980). Este seria meu objetivo.
Todavia, a grande ideia não conseguiu passar da intenção. A minha inspiração ficou muito aquém da grandiosidade do querido poetinha. Ainda tentando participar da homenagem, numa atitude teimosa, porém saída do coração (do mesmo coração daquele jovem estudante de 44 anos atrás) e ciente das minhas limitações, me ocorreu fazer uma poesia a três mãos (duas do Vinicius e uma minha para conduzir os versos do homenageado, isto é, uma poesia de autoria do próprio Vinicius com versos selecionados (como em qualquer antologia, porém consolidada numa única poesia, que intitulei “ETERNAS PARCERIAS”) e que reproduzo a seguir, não apenas como a minha homenagem pessoal ao poeta do amor, mas como forma de lembrar à meia dúzia dos meus quatro leitores, a explosão cultural que este País experimentou entre 1955, (iniciada pela literatura, o Cinema Novo, a copa conquistada na Suécia e a Bossa Nova, passando pelo grande Presidente JK a Palma de Ouro de Cannes, a inauguração de Brasilia e mesmo o “bicampeonato” do Chile, até que em 1964,  as ideias de grandeza dos militares e principalmente, um medo doentio e irrefreavel do comunismo que, como se dizia à época, “era capaz de comer criancinhas”, adiaram “sine die” o esplendoroso futuro do Brasil.

ETERNAS PARCERIAS
Porto do Havre, 07 de setembro de 1964,
Tomzim querido,
Morrendo de saudades na solidão deste quarto de hotel que dá para uma praça,
que dá para toda a solidão do mundo, escrevo para você,
como sempre, cartas que nunca mando.

Porque hoje é sábado, o dia da criação,
saudades da nossa terra, do arroz branco soltinho e dos papos de anjo,
como só a mãe da gente sabe fazer.
Porque hoje é sábado, amanhã domingo.

Na verdade, não mais escrevo do Havre e
a melancolia já abandonou o meu coração há muito tempo.
Hoje sinto a tua presença e tua alegria, minha poesia se enriquece.
Sou o poetinha, teu parceiro e amigo.

Canto sem parar, contigo e com todos os meus parceiros,
assino meus versos com seus nomes.
Em seu louvor hei de espalhar meu canto,
rir meu riso e derramar meu pranto.

Escrevo por hábito e por prazer, amigo infinito,
porém, não mais é necessário, meu pensamento já te alcança.
Peço perdão por te amar assim, tanto e tão de repente,
acho que é vicio, amei sempre mais do que devia.

Mas não é o amor daquela chama,
é o amor fraterno que me chama.
E se um dia hei de ser pó, cinza e nada,
que seja a minha noite uma alvorada.

Maior amor que o meu não existe,
que não sossega a coisa amada,
e quando a sente alegre, fica triste,
e se a vê descontente, dá risada.

Louco amor meu, que quando toca fere
e quando fere vibra, mas prefere
ferir a fenecer – e vive a esmo.
Que me saiba perder… pra me encontrar..

Enfim, depois de tanto erro passado,
tantas retaliações, tanto perigo,
eis que ressurge noutro o velho amigo,
nunca perdido, sempre reencontrado.

É bom sentá-lo novamente ao lado,
com olhos que contêm o olhar antigo.
Sempre comigo um pouco atribulado,
e como sempre singular comigo.

Percebo em ti, Tom, os mil amigos e parceiros,
descubro o amor incondicional em pleno.
O ombro amigo e a corrente fraterna mais do que infinita,
a paz no coração e o fim do meu fastio.

Meu são Francisco de Assis, Francisco de Assim, poverello,
ou como te chame a sabedoria dos povos e dos homens,
este é Vinicius de Moraes, de quem se podia dizer – o poeta –
se jamais alguém o pudesse ser depois de ti.

E afinal, meu São Francisco, quem pagará o enterro e as flores
se eu morrer de amores?
Quem, dentre amigos, tão amigo
para estar no caixão junto comigo?

Porque hoje é sábado, amanhã é domingo,
e a vida vem em ondas, como o mar,
e os bondes andam em cima dos trilhos,
e Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na Cruz para nos salvar.

Porque afinal eu creio na alma
nau feita para as grandes travessias
que vaga em qualquer mar e habita em qualquer porto.
Eu creio na alma imensa.

Meus caros volta-se porque se tem saudade
porque se foi feliz intimamente.
Volta-se porque se tocou num inocente
e porque se encontrou tranquilidade.

E assim é que partindo,
eu vou voltando e vou levando
toda a desolação de um até quando,
num ardente desejo de até breve.

E quando mais tarde me procures
quem sabe a morte, angústia de quem vive,
quem sabe a solidão, fim de quem ama
eu possa lhe dizer do amor (que tive):
que não seja imortal, posto que é chama
mas que seja infinito enquanto dure.

Rio de Janeiro, maio de 2013

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UM CONTO DE FADAS (ou a triste, sangrenta e romântica realidade mexicana)

Verde, blanco y rojo sangre Meus prezados leitores e amigos, correndo o risco de ser repetitivo, mas sem poder deixar de acompanhar os desdobramentos da política mexicana, especialmente, por ter sido o tema central do meu livro “A Versão dos Vencidos: Uma ótica sobre a História do México” (Letra e Imagem, Rio de Janeiro, 2012, 263 págs.) volto ao assunto, por tratar-se, mais uma vez, de destaque na imprensa local e internacional.
O jovem presidente mexicano Enrique Peña Nieto (46 anos) concluiu, no mês de abril pp. seus primeiros cem dias de governo, porém, ainda envolvido em acusações de corrupção (fatos ocorridos entre 2005 e 2011, durante seu mandato como Governador do Estado do México), na herança partidária de nexos comprovados com o narcotráfico e na fraude eleitoral através da qual foi eleito no ano passado como sexagésimo sexto presidente do México (relativa à também constatada compra de votos). Isto, sem falar na atual sequência de desaparecimentos, assassinatos, confrontos sangrentos e repúdio à política PRIista que nos remonta à corrupção, à impunidade e aos erros já tradicionais, em pleno século XXI, já totalmente incompatíveis com o almejado e cada vez mais longínquo regime democrático.
Trata-se, meus amigos, da continuação daquele filme já visto até exaustão (A volta dos que nunca foram; segunda parte: A Desforra) apenas, como não poderia deixar de ser, numa nova versão encharcada de romance, violência, roubo e crimes mafiosos, tudo regado ao molho do sangue dos inocentes e uma pitada de ciúmes, bem à usança mexicana. Houve até quem sugerisse um título mais empolgante, curto e direto, como “A Desgraceira”, por exemplo, mas rejeitamos por se tratar do obvio ululante (benção Susana Flag) ou seja, a desgraça mais do que prevista e anunciada.
Não pretendo contar aqui a história toda, até porque a nossa Janete Clair, onde quer que ela se encontre, morreria de novo pelos efeitos devastadores daquele sentimento negativo conhecido popularmente como inveja, mas este imbróglio todo se inicia com a escolha de um político jovem, bonitinho, disciplinado e obediente aos requerimentos partidários, consequentemente incapaz de criar qualquer tipo de dificuldade para os operadores do teatro de marionetes.
Obviamente, teria que saber cantar e dançar conforme a música, sem manifestações nem protestos, colocando a própria vontade e sua eventual filosofia de vida a disposição dos cérebros maquiavélicos, cuja experiência já teria garantido ao Partido Revolucionário Institucional (PRI), mais de 80 anos de exercício no poder e pelo qual seria recompensado “apenas” com o mais alto cargo do país pelos próximos seis anos (sonho este que em qualquer outra condição, seria totalmente inatingível pelo iletrado candidato). Ao parecer a característica de iletrado não teria sido uma exigência para o candidato a candidato, mas tornou-se uma consequência da observância do resto das exigências.
Diga-se de passagem, a beleza física apresentada pelo candidato ao cargo não foi suficiente para impedir a frustração de grande parte dos eleitores quando, em plena “Feira Internacional do Livro” (FIL), evento anual realizado na cidade de Guadalajara, perante uma simples pergunta de um repórter televisivo, foi incapaz de citar três livros que poderiam ter influenciado a própria vida. Para não faltar a verdade, citou a bíblia e acabou tendo que pedir ajuda a seus colegas de partido para tentar evitar uma saia justa, da qual foi incapaz de se safar.
Mas nem todo foi negativo neste conto de fadas, o romantismo de acordo com o IBOPE local, venceria qualquer resistência de quem quer que fosse e os corações femininos (os sonhos de “veu e grinalda” das novas gerações) acabariam determinando o roteiro da novela em questão.
Quem sabe a “The Walt Disney Company” fosse capaz de criar o “décor“ necessário para esta superprodução, mas não foi necessário; ao parecer a Televisa, empresa ao alcance da mão, apoio irrestrito do partidão, já tinha a experiência requerida, principalmente na área das telenovelas (inclusive para exportação). Assim, para acompanhar o “príncipe iletrado”, foi escolhida a popular, jovem e linda atriz mexicana, Angélica Rivera, para representar o papel de princesa nesta nova história de fadas, capaz efetivamente de encarnar o sonho de milhões de jovens mexicanas.
Todavia, novo obstáculo escureceria temporariamente o horizonte eleitoral, ou melhor dizendo, o planejado encontro  das paixões; o  pequeno príncipe, o candidato ideal escolhido, era casado. Fato este, ao que se sabe, totalmente incompatível com qualquer tentativa de se criar um romântico par, capaz de concretizar os sonhos dos lunáticos e dos humildes. Por outro lado, de acordo com as mentes criativas da tramoia televisiva, (políticos, diretores e produtores) tal condição não seria impeditiva do sonho mexicano, principalmente quando o destino confabula a nosso favor. Coincidentemente (e de forma mais do que conveniente) a esposa do príncipe, mãe dos seus filhos, após 13 anos de um feliz casamento, vem a falecer (aparentemente atacada por doença desconhecida que gerou, em circunstâncias até hoje não esclarecidas, uma disritmia cardíaca, motivo direto da inevitável defunção).
Ao parecer o nosso príncipe caiu do cavalo, (sem perder o topete evidentemente, já adrede cultivado para compensar o escasso 1,72 metros de estatura) pois acabou tornando-se suspeito pela morte da companheira. Posteriormente ao triste fato, numa entrevista à TV mexicana em que o cavalheiro da nossa história foi questionado à respeito, ele esqueceu literalmente, a causa mortis da mãe dos seus filhos.
Para esquecer os tristes episódios que já teriam levado a plateia às lágrimas, estes jovens e promissores protagonistas da recente história romântica mexicana se reencontraram pelos caminhos da vida e justamente, em plena campanha do PRI para a Presidência da República, anunciam em programa nacional de TV o sonhado noivado. Estas verdadeiras almas gêmeas decidem a seguir (2010), para o bem geral da nação, unir seus corações num único destino (e que coincidentemente viria a ser o da própria nação mexicana).Casamento Peña Nieto - Rivera
Charles e Diana redivivos para regozijo dos seus súditos tupiniquins, ou melhor dizendo: mexicas ou masiosares.
A história ainda está longe de acabar, mas parece ter ficado sem um roteiro definido, parece que o mesmo destino que confabulava em favor dos mexicanos, ao unir este par romântico para dirigir os destinos do país, estava apenas preparando o inferno astral do conto de fadas. Vários finais estão sendo preparados em segredo (até agora ninguém foi capaz de descobrir quem matou a Odete Roitman no “Vale Tudo” mexicano, ninguém sequer chegou perto do responsável pelo sumiço de Salomão Ayala e muito menos de adivinhar o futuro incerto da PEMEX e dos mexicanos).
Há cem dias de ter iniciado seu governo, o “Principito” Enrique Peña Nieto, de fato parece não ter encontrado o caminho. As perguntas se acumulam e as respostas custam a aparecer, porém, mesmo sem resposta, parecem refletir exatamente o que foi feito (absolutamente nada) e o desafio do que ainda terá que ser feito (absolutamente tudo).
Neste sentido, nos apoiamos mais uma vez, na sapiência e na experiência da cientista política mexicana, Denise Dresser, PHD em Relações internacionais pela Universidade de Princeton, analista política, escritora e professora universitária (atualmente responsável pela cadeira de “Política Comparada” do ITAM – Instituto Tecnológico Autônomo do México) e que recentemente formulou 25 perguntas ao Presidente mexicano. Estas perguntas, como dizemos, estão até hoje sem resposta, nem tanto por serem incompatíveis com a história montada para o público juvenil que acompanha as novelas românticas da Televisa, mas especificamente por evidenciarem (sejam quais forem as respostas) a pós-moderna, triste e sangrenta realidade mexicana:

01).- De que forma conseguirá reduzir o índice de homicídios em 50% no seu primeiro ano de governo, como prometeu?
02).- Qual será o tratamento a ser dado aos cartéis do tráfico de drogas que possuem milhares de homens armados e hoje constituem grupos de criminosos que além de controlar o comercio de drogas no País, são também responsáveis por sequestros e extorsões, além de subtraírem recursos da PEMEX?
03).- Quando e de que forma o Exercito vai retornar aos quartéis?
04).- O que achou da reportagem da “International Crisis Group” denominado: “O Desafio de Peña Nieto: Os cartéis criminosos e o Estado de Direito no México”, onde se argumenta que a ofensiva militar vem erodindo ainda mais a confiança no Governo?
05).- Qual o motivo que o leva a acreditar que a chegada do seu governo é coincidente (como disse) com o surgimento de grupos armados de “autodefesa”?
06).- Como explicar que a taxa nacional de homicídios não tenha caído significativamente neste primeiro período da sua gestão presidencial?
07).- O que pensa fazer para acelerar a implantação da Reforma Policial e da Justiça?
08).- O que lhe faz pensar que seu “Programa Nacional de Prevenção do Delito” seria realmente efetivo quando outras iniciativas semelhantes vem fracassando sistematicamente?
09).- Como deverá operar de forma eficiente este Programa, num contexto de altíssima impunidade; de 80% de homicídios sem solução, com um índice de condenações de uma para cada 20 homicídios, em alguns dos Estados?
10).- Como vai enfrentar a corrupção – Os vínculos entre narcotraficantes, -membros das forças de segurança e o “establishment” político- quando esses vínculos surgiram e se mantém ao longo de sete décadas de presidências PRIistas?
11).- O que será feito durante o seu Governo para enfrentar o vertiginoso crescimento de “gatos” (obviamente clandestinos) na rede de distribuição da PEMEX ao longo do País, já que apenas num ano (2011) teriam sido detectados 1,324 casos incontestáveis, superando vertiginosamente aqueles constatados em 2010 (712) e em 2005 (136)?
12).- Como vai enfrentar o seu Governo o fenômeno da diversificação das atividades criminosas dos cartéis, incluindo extorsão, sequestro e contrabando?
13).- Acredita que a estratégia Calderonista de “Degola de Cartéis” teve resultado contraproducente e que portanto será necessário abandona-la?
14).- Esta prevista algum tipo de atitude contra os responsáveis pelas 26,121 pessoas desaparecidas no Governo do seu antecessor, Felipe Calderón?
15).- Qual a sua opinião a respeito do argumento utilizado pela “International Crisis Group” onde se constata que “perante o baixo índice de crimes investigados, os grupos militares optam por matar os eventuais delinquentes ao invés de prende-los”?
16).- O que pretende fazer sobre o crescente número de militares acusados de assassinato, desaparecimentos forçados, estupros, roubos e tortura?
17).- O que pensa dos casos em que soldados matam com frequência eventuais delinquentes durante as operações realizadas contra os cartéis do tráfico de drogas?
O Governo está tratando a ameaça representada pelos cartéis como um problema vinculado à delinquência (como você mesmo diz) ou como uma questão de segurança nacional, onde as tropas podem disparar a vontade contra um inimigo armado? O Sr. sabia que caso os soldados em serviço atirem para matar, poderiam estar violando a lei mexicana?
18).- Sabia que o México é um dos Países mais perigosos para se exercer a função de jornalista, junto com o Afeganistão, a Somália, o Paquistão, o Iraque e a Síria?
19).- Sabia que segundo Mariclaire Acosta da “Freedom House”, a autocensura da mídia no México é tão grave que “temos zonas inteiras do País onde não existe informação”?
20).- Sabia que o número crescente de jornalistas e defensores dos direitos humanos que tem solicitado asilo nos EUA e o Canadá, apontam a persecução das autoridades (como por exemplo o Exercito) ou a falta de proteção das mesmas contra os cartéis do tráfico de drogas, como os principais motivos da sua decisão?
21).- O “Pacto pelo México” que o Sr. preconiza, não menciona o tráfico de drogas nem a derrota dos cartéis. Isto significa que estes objetivos não mais terão prioridade durante o seu Governo? A que atribui a mudança do enfoque?
22).- Não é verdade que a “Gendarmeria Nacional” (NT: grupo de segurança pública, definido como “Policia de Proximidade” a ser criado pelo novo governo, sem todavia esclarecer os objetivos específicos que geraram a iniciativa e ainda sem regulamentação, mas com definição exata da sua composição numérica: qual seja, 10,000 elementos de formação castrense, sendo 8,000 membros do Exército e 2,000 da Marinha) simplesmente estará integrada por soldados em um uniforme diferente, porém sem nenhum treinamento militar sério voltado para a segurança?
23).- E de que forma este novo corpo deverá compatibilizar seu trabalho com o da Polícia Federal? Qual será a diferença real entre as duas forças, além do uniforme? Como será blindada a “GENDARMERIA”, da corrupção já infiltrada na Polícia Federal?
24).- No acredita que já é tempo de reavaliar as políticas dos EUA que sistematicamente vem fracassando na prevenção do uso de drogas ilícitas? Que pensa dos debates sobre a legalização que estão sendo iniciados no seio da Organização dos Estados Americanos (OEA)? Porque o Exercito mexicano está queimando campos de “Cannabis” na Baixa Califórnia, quando já pode ser vendida legalmente em muitos ambulatórios ao norte da fronteira?
25).- O Sr. tem dito que a legalização crescente da maconha nos EUA “abre um espaço para a reformulação da nossa política”; Eu pessoalmente não sou a favor da legalização, não acredito que seja o caminho. Mas, porque não?

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Arquivado em Crônicas do Cotidiano